UMA MULHER EMBAIXO DE UM VIADUTO, UM DESGOVERNO E TRÊS BRASIS.

Um viaduto. Carros passavam a todo instante. Lá embaixo, um barraco de madeira bem projetado. Fora dele, um homem com um serrote na mão. Do outro lado, uma mulher que, pela situação em si, parecia ser sua esposa, olhando ao longe o horizonte, o vazio, o nada...

O que pairava em sua mente, não há como saber. Eu era apenas um transeunte que passava às pressas por ali. O único diferencial foi minha percepção à sua problemática, aos seus anseios mais profundos.

O que fazer mediante a isso? Apenas descrever o fato em sua plenitude, responsabilizando o governo por ser omisso ao caos dos sem-terra e moradores de rua? Culpar o sistema capitalista por ser o responsável pela desigualdade social e, por conseguinte, desgraça?

Não há o que fazer! Sou apenas uma andorinha jogando minúsculas gotas d’água num descomunal e sem precedente incêndio chamado injustiça, injustiça que o governo insiste em fingir não ver, discursando em alto e bom som, nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e Senado Federal, que o Brasil anda bem das pernas e vai muito bem, obrigado!

Será que na concepção do governo, existem dois Brasis? Porque começo a pensar que tanto o ex-Presidente Lula quanto a Presidente Dilma e seus asseclas estão se referindo ao Brasil elite que, em sua maioria, são vigaristas custeados pela massa dos despossuídos, por aqueles que pagam seus impostos com tanto sacrifício e terminam a vida sem retorno.

Na realidade existem três Brasis: o Brasil elite, o Brasil pobre e o Brasil abaixo da linha da pobreza, que é o caso daquela mulher. De qual desses Brasis os representantes do povo se referem? E por falar em representantes do povo, o que essa frase significa? Seria de origem grega? Acredito que nem eles sabem, devido a complexidade de tais palavras, ou seria desmando, desgoverno, governo de poucos, governo de quase nada ou governo de nada?

O que se sabe é que é tempo de enxergar que a questão central é a desigualdade social. De um lado, o Brasil dos poderosos; do outro, o Brasil pobre e esquecido, maquiado com falsos números na finalidade de mostrar-se bem lá fora.

Nossa realidade social está nas mãos de umas dezenas, e põe dezenas nisso, de hipócritas, fraudulentos e bandidos sanguessugas que quadruplicam seus bens descaradamente às custas do povo, transportando valores absurdos em cueca; desviando dinheiro de obras públicas, dos Ministérios e, simplesmente, ficam impunes, sendo inicialmente bombardeados por acusações que caem rapidamente no esquecimento (no Brasil é assim mesmo, CPI's que geralmente ACABAM em PIZZA) e, posteriormente, desfilam abastados e com um largo sorriso no rosto, como que dizendo: “enganei os bobos. Me orgulho de ser brasileiro. Brasil, um país de todos, inclusive de nós, os corruptos que sempre nos damos bem”.

Então faço minhas as palavras do saudoso Renato Russo: “Que país é esse?”, e uma desalentadora, porém repentina e tranquilizante resposta me vem à mente: é um país de corruptos". Mas também é meu, é de um remanescente que não se curvou ante às arbitrariedades de uma elite, que se recusa diuturna e obsessivamente a comer do manjar do rei.

Pois é, e assim vamos vivendo; nós de cá e eles de lá, e ainda aquela pobre e desgraçada mulher que, sem ter onde morar (pois afinal, o Brasil é tão pequeno geograficamente e com tão poucas terras inabitadas, não é?), foi morar com sua família embaixo de um viaduto. Mas quem se importa com isso? Dane-se ela!

Ironia do destino, inversão de valores ou canalhice desgraçada e falta de vergonha na cara? Fico com a terceira opção!

Chamo-me Rogério. Sou poeta e escritor, alguém que não suporta mais ver seus compatriotas entregues à própria sorte e morrendo à míngua numa guerra de gigantes. Sou brasileiro, uma voz que clama no deserto!!!

NOTA: O poeta escreveu esta crônica baseando-se em fatos reais. Aquela mulher e seu esposo, trajando roupas limpas, vivendo num barraco de madeira bem construído embaixo de um viaduto, em Fortaleza. Mendigos com certeza não eram, pois de miseráveis não tinham nada, exceto o destrato e o abandono por parte do Estado, visíveis em seus semblantes. Até quando viveremos ladeados dos horrores da desigualdade social? Por que tanto dinheiro dos cofres públicos, desviados para fins de corrupção quando deveriam ser usados para atenuar a pobreza?

Quem sabe um dia diremos: FINALMENTE PODEMOS AFIRMAR QUE SOMOS VERDADEIRAMENTE BRASILEIROS!

FORTALEZA - CE, 15/03/2012 - 05:38 h.