Que horas são?
 
 
Quando pequena, andando pela praia, eu gostava de rodopiar o calcanhar na areia fincando o dedão do pé para fazer um círculo. Depois colocava uma vareta no centro e através da sua sombra eu podia calcular a hora. Era o meu relógio de sol. Ensinar uma criança a ler as horas da maneira tradicional não é muito fácil, assim como ensinar adultos a dizer as horas em francês. O mais difícil é quando faltam os minutos para a hora certa. Dez para as três para eles são três horas menos dez. Minutos passados são ditos diretamente, sem ‘e’, mas tem que dizer ‘horas’ e o verbo não concorda. É três horas cinco, é quatro horas dez...  E para complicar, eles ainda usam o ‘quarto’ de hora que nós abandonamos. Três horas e quarto, quatro horas menos quarto... Em compensação, não se usa AM (ante meridiem) ou PM (post meridiem) na França. Ninguém diz venha às oito da noite, é sempre venha às vinte horas. Mas não se assustem, a maioria dos franceses costuma dizer as horas da maneira mais fácil. Se você perguntar, vão responder: (il est...) é treze horas dez ou é vinte e uma horas quarenta e cinco. Um colega francês, que vivia aqui e falava português direitinho, sempre dizia que a aula começava às dez pras uma. Quando corrigido, ele reclamava. ‘Vocês não dizem dez pras duas, dez pras três, dez pras quatro?...
 
Depois que meus filhos tinham aprendido a difícil lição das horas (em português) tornaram-se populares os relógios digitais, que eles adoraram. Então vinham me dizer felizes da vida: ‘hoje acordei às sete e quatorze. Amanhã você me chama às sete e dois?’