A IGREJA ROSA

Crônica

A IGREJA ROSA

“Campanaro della Valpadana,

Per chi suoni la campana?”

(Concina-Cherubini)

A época era a metade do século passado... A praça da Igreja Matriz de Santo André não tinha o mesmo tamanho da atual. Era muito menor, terminando na rua Santo André. Hoje, ela desce até a rua Agenor de Camargo. A Igreja é conhecida, hoje, como Igreja Rosa.

Havia um bem cuidado jardim, com canteiros gramados cercados de bucho, sendo conservado por um jardineiro, coitado, que muito sofreu com a molecada que ali frequentava. Era o Gaspar, apelidado de Pardal. Feio de doer, magro, sem um dente sequer e, por isso mesmo, tinha aquela boca chupada, tradicional dos desdentados. Quando não estava tratando do jardim, vivia com um pau de goiabeira, sua arma para correr atrás dos meninos. E só corria...não parava. Tanta molecagem.

Ao centro, muita gente não sabe, ficava o cruzeiro de pedra que, hoje, se encontra no chamado primeiro largo da Vila Assunção. Ali tudo acontecia: era o ponto de encontro da turma, o obstáculo para se livrar do Pardal e, vez ou outra, servia (que sacrilégio) para uma “tirada de água do joelho”, não sem antes um pedido de perdão para os santos de plantão.

A turma de meninos que ali frequentava, era composta por membros de todas as idades. Jogávamos bola nos canteiros, até o Pardal deixar. Empinava-se papagaio, rodava-se peão, soltava-se balão feito pelo Piereto, jogava-se bafa, uma-na-mula, e assim por diante...

Na praça residiam famílias tradicionais da cidade, tais como, os Brunoro, do Silvio, avô do Titão Girelli, um dos primeiros motorista de táxi da cidade, os Mantovani, o seu Furlanetto, o sapateiro, pai da Shirley e do Sidney, o Íride Bocaletti, que mais tarde viria a ser conhecido como Bigode, dono do famoso bar das 5 esquinas, ponto das boas caipirinhas e petiscos; também a casa da outra Shirley, mulher do Zé da Padaria Líder, sua irmã Maria e onde morava um ex-pracinha combatente da II Guerra Mundial (inesquecível o dia de sua volta no fim da guerra) e policial rodoviário. Depois, a casa do Zé Novella, que vivia no portão, a casa do Nini (Alfredo) Ullmer, grande amigo, cheio de tiques nervosos e que viria falecer ainda bem jovem, de ataque do coração.

Morava ali, também, a família do ex-prefeito Pedro Del’Antonia, que dá seu nome a um viaduto e ao conjunto esportivo que ele construiu, para os Jogos Abertos do Interior, de 1959.

Finalmente, a casa dos Antunes dos Santos, o armazém do seu Joaquim, de nome Ao Anjo Barateiro, pai do Zé Barateiro, motorista de praça, do Nilton, um “gentleman”, craque de bola e da Astride. Nessa casa, os grandes torneios de futebol de mesa, ou de botão. Botão de roupa, mesmo.

Por fim, não poderia deixar de citar as esperadas quermesses, realizadas em junho, com o vai-e-vem das moças (quantas boladas nos traseiros delas, com bolinha de elástico), o tradicional correio elegante, a pesca, a roleta e a barraca de salgados, onde despontava o bolinho de bacalhau feito pela esposa do seu Joaquim. De dar água na boca.

Quermesses, hoje, ainda existem, porém, sem o charme das de antigamente...

E o alto-falante informava, interrompendo Nelson Gonçalves cantando Normalista...

”-Esta música, é oferecida ao rapaz de calça rancheiro e camisa xadrez de flanela, com muito carinho, pela mocinha de vestido azul e fita amarela na cabeça, que aceita compromisso...”.

“ ...Mas a normalista linda,

Não pode casar ainda...”

Nota Explicativa – Esta crônica foi escrita por volta de maio/2009, e faz parte de meu primeiro livro “UM PASSADO SEMPRE PRESENTE”.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 21/07/2012
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