Fila de Espera

Fila de espera. Uma senhora que anda sem parar, outra criança que corre, uma senhora que grita, outro bebê que chora. Fome. A criança chora de fome, a mãe a alimenta ali no meio de todos. Eu também estou com fome, penso se será que posso pedir da papinha a mãe do bebê. Não! Já passei da idade de papinha. Continuo com fome. Impaciente eu, a senhora, o rapaz, a garota, a idosa. A senha da senhora a minha frente é chamada. Não! Não era o número dela, se enganou. Sai da sala com um sorriso amarelo já procurando o celular, se esconde atrás do aparelho. A mulher que deveria ter entrado olha com cara feia, mas entra de cabeça erguida. Fila. Senha. Hora. A mulher que entrou de cara feia, agora sorri e parece estar contando a sua última aventura para a atendente, que chama a funcionaria da limpeza, que chama outra e todas ali a escutar. Fila. Senha. Espera. Paciência. A bateria do telefone acaba a senhora se dirige então ao telefone público. A minha bateria começa a acabar também. Vou tomar um café. Parece que minha senha não vai ser chamada hoje. Parece. Volto do café e ainda faltam dez números para que eu comece a ter esperanças. A hora passa. Mais pessoas chegam, mas nenhuma é chamada. A mulher contadora de estórias sai sorridente. Outro número é chamado. Parece que a velocidade vai melhorar. Outro número. Seis. Cinco. Quatro. Estou perto. Muito perto. A fila para. Sento. Tento conter a empolgação. Estava tão perto. Levanto. Ando. Olho. Descubro algo. Algo com que flertar. Sim agora flerto com o grande relógio da parede. Jogo um charme. Pisco o olho. Mas ele é inflexível, não acelera de jeito nenhum. Não me dá bola. Faltam quatro números. Mais uma hora se passou. Faltam quatro números. Meia hora se passou. Faltam quatro números. O minuto seguinte já passou também. Faltam quatro números. O segundo seguinte já passou. Desisto. Jogo a senha fora. Alguns atrás de mim sorriem. Pensam que mais um fraco se vai. Desisto, vejo o dinheiro que tenho na carteira, não encontro, mesmo assim paro no primeiro bar e peço um copo. Um grande copo de água e tomo a maior decisão da minha vida. Decido que amanhã volto para aquela fila confiante de que desta vez eu vou sair vencedor. Custe o que custar.

oalbergueiro.wordpress.com