COITADA DA CUMADE JAQUELINE
Isso foi nos anos sessenta. Zé de Ciço, caba da peste do Cariri, era devoto do padim Ciço e já tinha batizado quase todos os meninos com o nome de Cícero, em homenagem ao santo do sertão. Era “Ciço” pra cá, “Cicim” pra lá que num acabava mais!
A mulher já barriguda de mais um “cumedozim de rapadura” chegou pra ele e perguntou, mode como quem num quer nada:
- Ô Zé, cumé mermo o nome qui tu qué dá pru nosso minino? Tu falô mas já misquici.
- Ôxente, Muié! Vai ser “Dion Quenedi”, aquele prisidente americano virado na gota! E tem mais: vamos dar ele de afilhado. O pade dixe que vai ser mêi dificil…o hôme lá é mêi ocupado.
- Vixe! Tu tem cada ideia! Êita!
Zé de Ciço pediu ajuda na prefeitura de Juazeiro e por sorte do destino, tinha um gringo visitando a cidade que achou a ideia interessante e de pronto enviaram uma carta para embaixada dos Estados Unidos endereçada ao próprio presidente John Kennedy.
Para a surpresa do padre e do prefeito, a própria embaixada respondeu a carta dizendo que o presidente John Kennedy ficava muito honrado com o convite. Só não podia comparecer ao batizado do afilhado.
Ora, isso era o de menos! já foi mais do que o suficiente pro Zé de Ciço se sentir íntimo do presidente, e a partir de então se tornou o cumpade do presidente dos Estados Unidos, conhecido em toda a região do Cariri.
Aí teve um dia que Zé de Ciço tava no roçado e ouviu no radinho de pilha a notícia da morte do presidente dos Estados Unidos John Kennedy. Foi um susto danado! O pobre homem correu pra casa arrasado, desconsolado, inconformado. A pobre da mulher sem entender o acontecido perguntou:
- Diabéisso, Zé! Foi mordido de cobra, foi?
- Ôxente! Muié! Agorinha aconteceu uma disgraça na nossa famía!
- Nossa Senhora das Dores! Que foi home de Deus? Diga logo, pela hóstia!
- Sabe o nosso cumpade? O padim do Quenedim? Pois foi muié! Parece que se abufelou com um caba lá nas terras dele!
- Mas ele tá bem? E qual foi a disgraça, home? Ôxente!
- Mataram o cumpade Dion, muié! Mataro ele de bala!
- Meu Deus do Céu! Como isso foi acontecê, Zé! Tadinha da cumade Jaqueline!