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Batendo um bolo

Hoje acordei com vontade de comer bolo. Não aqueles bolos maravilhosos que compramos na padaria, embalados em saquinhos plásticos e cheirando a pecado. Não; queria um bolo simples. Um bolo-família, como os da Tia Rosa.

Lembrei-me da época em que ela nos fazia suas visitas, trazendo sempre um saco de maçãs. Conversa vai, conversa vem... quatro horas da tarde. Boa hora para tomar um café. Café com bolo. Ela dizia:
"Ruth (minha mãe), pega os ingredientes que eu vou bater um bolo." E minha irmã e eu ficávamos sentadas à mesa da cozinha perto dela, enquanto nossa mãe untava a forma e batia as claras em neve à mão, pois não tinhamos batedeira. Tia Rosa colocava as gemas e o açúcar, misturava bem, formando uma farofa, depois acrescentava a manteiga, o leite, e finalmente, o trigo. Batia vigorosamente. Batia também nas nossas mãos ansiosas por enfiar o dedo na massa: "Assim desanda a massa", ela dizia, fingindo que estava zangada.

Enquanto isso, o sol de final de tarde entrava pelo janelão da cozinha.
Depois, ela acrescentava o fermento, as claras em neve e esquentava o forno. Derramava a massa na forma untada, picava maçãs por cima... e minha mãe preparava o café no coador de pano.

Se uma de nós abrisse a porta da cozinha, ela ralhava, dizendo: "Fecha a porta, ou o bolo embucha! Não se abre porta em cima de forno quente, menina!"

Os bolos da Tia Rosa tinham sempre uma fofura que até hoje, não consegui copiar. Hoje de manhã, tentei seguir os mesmos passos que ela, rigorosamente, mas cometi um pequeno erro, eu acho: usei a batedeira. Ao invés de maçãs, bananas. Esquentei o forno, derramei a massa na forma untada. Após dez minutos, o cheiro já começava a se espalhar pela casa. O tempo todo, parecia que ela estava de pé atrás de mim, dizendo: "As claras ainda não estão no ponto. Pique as bananas mais fininhas. Unte bem a forma."

Sempre há um pouco de ansiedade nos segundos que antecedem a retirada de uma forma de bolo do forno. Estará murcho? Graças a Deus, saiu uma cuca de bananas quase perfeita. Só seria perfeita se a Tia Rosa a tivesse feito. Coei o café (na cafeteira elétrica, filtro de papel) e comecei meu dia com uma grossa fatia de bolo.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 20/07/2012
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