Jeremias e a víbora traiçoeira
_Vá pro inferno!
Essas foram as palavras de Jeremias à sua esposa quando saiu porta a fora bufando de ódio. Amélia, a esposa, ficou la dentro entre lágrimas.
Jeremias saiu andando sem rumo, pensando e repensando na atitude da esposa. Queria não acreditar naquilo. Em que momento ela havia se transformado naquela víbora traiçoeira capaz de semelhante atrocidade? Aquilo foi como uma facada nas costas para ele. Agora era um homem sem honra, seu mundo caíra, seu coração estava em pedaços.
Lá pelas tantas, depois de andar feito um maluco pelas ruas da cidade, parou num boteco e pediu um conhaque. Duplo. Um filme rodava em sua mente enquanto sorvia cada gole da bebida... Outro conhaque... Queria esquecer-se daquilo. Não tinha jeito. As imagens vinham nítidas e potencializadas, era como se revivesse o momento. Decidiu por fim, que voltaria em casa no outro dia para buscar suas coisas. Estava tudo acabado. Sua honra fora muito abalada e isso não tem volta.
Acordou às 11. Numa calçada imunda. A ressaca era dos diabos. Ignorou-a e tocou-se rumo a sua casa. Lá chegando, abriu a porta e seguiu em direção ao quarto. Amélia ouviu os passos, tomou coragem e foi atrás de seu amado.
No quarto, Jeremias arrumava suas roupas numa mala quando a mulher interveio:
_Me perdoa. Pelo amor de Deus!_ ela soluçava_Eu não queria te magoar. Foi um erro que nunca mais vou repetir. Esqueça isso e vamos recomeçar. Eu imploro...
Jeremias parecia alheio as lamúrias da mulher. Já estava decidido, não tinha volta. Sua moral ferida não daria espaço para um recomeço. Então, tomou fôlego e bradou:
_Da próxima vez vá fazer “fio terra” no corno do seu pai.
E foi embora com a mala de roupas.