Ter ou não ter
Ser ou não ser? Isso é coisa do passado romântico, da vida de vários valores e mentalmente valorizada. Hoje o mundo cresceu na base do capitalismo e do imediatismo: duas moedas perigosas (dinheiro e tempo). Sofremos muito por não sabermos conviver com as duas moedas de troca que, na verdade, são inúteis quando não podem ser armazenadas! Sim! A palavra é guardar o dinheiro e o tempo (impossível) como se eles fossem teus... Não são.
O mais ainda complicado é a fantástica evolução das comunicações. Tudo é fácil, por internet ou celular, nos achamos e nos perdemos. O homem de hoje não sabe o valor do nada, do nada ter, do poder das coisas inexplicáveis, do amor platônico, do sonho. Tudo tem massa e forma! E tudo se pode ter! Estamos educando nossos filhos dentro da ilusão da matéria, do poder e da conquista. Fica duro não ter...
Sou feliz! E você olha o conjunto do cidadão: mulher, casa, carro e dinheiro! Ele pode nada disso ter e ser muito feliz! Não entendemos e não sabemos ver o simples. O simples não existe a seus olhos, você só valoriza na perda. O calor, a luz elétrica, o fogão (de lenha...) e a comida quentinha. O sexo no estado puro do desejo atrasado, os bichos nos fornecendo as carnes e os peixes. Tudo ali no supermercado da vida moderna. Basta um botão para o mundo vir mais para perto. A vida é hoje bem fácil nas mudanças fantásticas da medicina e transportes. Vivemos bem.
Valorize o nada ter, meu amigo. Cada gesto teu pode significar um olho mágico para teu filho. Leve ele para ver uma galinha, uma vaca e um bezerro mamando. As formigas e suas picadas, lagartos e quem sabe uma cobra no mato. É isso que vai criar a imagem da vida como ela é e sempre foi: pura. Um banho de chuva com cheiro da terra e o valor de uma boa toalha branca. Delícia a vida do “ter” o mais banal e valorizar o que a ciência nos traz de graça. Procure ver a torre Eiffel como uma obra de engenharia de um passado feito e talhado na mão, sem computadores e na base da união e criatividade. A criatividade é a terceira moeda que vai compor o conjunto perfeito: dinheiro + tempo + criatividade! Na interseção desses três haverá um ponto bem pequenino chamado felicidade! Procure-o e trate de viver feliz com o que há de melhor nesse melhor dos tempos, graças aos gênios do passado que mudaram a vida em forma de ciência. Agora devemos fazer o caminho de volta, da ciência recriando a vida, valorizando a bosta da vaca e a água pura que desce da montanha...
Seja feliz sem ter e mais ainda tendo as três moedas da harmonia!
Roberto Solano