Ontem, terminei o meu dia com uma assembléia geral semestral da Fundação. Conversamos sobre os desafios e as dificuldades da administração em geral. Uma conversa ampla sobre o sentido dessa vida, com todo o sofrimento que as pessoas enfrentam. Como gostaria de dar uma resposta a isso. Não sei o que dizer e também sofro com isso. Muito! Jesus, Buda e outros não quiseram tanto responder qual sentido o mundo tem, mas procuraram dar sentido à vida e ao mundo. E esse sentido é a solidariedade amorosa e a luta pacífica para transformar o mundo. Lembro o provérbio marroquino: “Se você sonha em poder amanhã mover a montanha, comece hoje a erguer pedras pequenas”.
Hoje, vim trabalhar com um sentimento nostálgico de saudade de não sei o que. E penso: Guimarães Rosa tinha razão ao dizer que toda saudade é uma espécie de velhice. Miguilim, um personagem de Rosa, diz o narrador, "todo dia, bebia um pouco de velhice" e aí ele explica que "os dias não cabiam dentro do tempo. Tudo era tarde". Penso que para transformar essa situação, só mesmo um amor que vá além de nós mesmos e do nosso círculo pequeno e que nos faça cantar como Violeta Parra em "Gracias à la vida": que nos olhos da pessoa amada, vemos os olhos de todo ser humano e nos olhos de todo ser humano, vislumbramos o olhar querido e esperado da pessoa amada. E nos passos de cada pessoa, escutamos os seus passos. E na voz e no modo de falar, abecedário, de todas as pessoas, é à pessoa do nosso coração que acolhemos.
Quando saio de casa para trabalhar, para um encontro ou uma conversa, deixo que essa capacidade amorosa aflore à minha pele e tome conta de minhas veias e minhas vísceras de forma que eu possa contaminar de amor quem eu encontrar.