Vermelhinhos ou Gostosos?

Dia desses estava passando o tempo com a página de ciência de um jornal. Uma descoberta sobre o tomate me proporcionou uma verdadeira viagem (desconheço cronista que não seja um viajante; meio guru, meio duende, mais para esquisito) . A pesquisa se referia ao porquê dos tomates terem perdido seu sabor. A resposta seria o fato de serem colhidos ainda verdes para amadurecerem só depois e ficarem ainda mais vermelhinhos, atraentes.

Quantos de nós não somos tomates vermelhinhos em nossa vida? Quantas vezes não nos preocupamos exageradamente em manter uma aparência que nos faça ser aceitos em um determinado meio sem necessariamente trabalharmos para nossa formação enquanto indivíduo, enquanto ser humano?

Não sejamos extremistas nem nos banhemos no senso-comum bipartido de separar o cara malhado do intelectual espinhento, a mulher saradona da caxias de óculos fundos. Por que não sermos um pouco de cada? Por que não nos deliciarmos com uma crônica do Veríssimo enquanto pedalamos numa ergométrica? Por que não conhecermos um pouco mais de Jazz, de viola caipira e de música clássica enquanto corremos nas avenidas e pistas de nossa cidade?

É o extremo estereotipado que muitas vezes nos condiciona a seguir uma massa uniforme, e pior; nela crer como único meio de vida. Crer no sabor do tomate pela sua cor é tão imaturo quanto desprezar que armazenamento, transporte e resfriamento podem alterar aparência e gosto das coisas.

A Martha Medeiros afirma que conhece as pessoas interessantes pelas suas falhas, não são super em tudo, sofrem sorrindo de suas dores e deficiências. Assim somos nós; mesmo que não possamos desfilar com aquele narizinho arrebitado da vizinha, temos mais tempo para a família que, ao contrário da dela, mora pertinho.

Tenho um amigo absurdamente avesso à mínima manifestação artística, cultural ou às letras em geral. Não é capaz de diferenciar Chico Buarque, Chico Science e Chico Mineiro. Muitas vezes tive o ímpeto de defendê-lo em alguma rodinha “fodástica” em alguma coisa. Desconheço sujeito mais hábil nos mais diversos serviços manuais; é o cara que te conserta o cabo do acelerador na estrada baldia na pescaria, o sujeito que te arruma o molinete de 7 rolamentos em pleno São Francisco, o indivíduo que faz fogo em dia de chuva no acampamento. Mas é incapaz de emitir opiniões; um verdadeiro Deus da praticidade, com as maiores dificuldades de expor qualquer sentimento.

Juro que decepcionei uma carrada de leitores que juravam ler mais um texto do cronista chato e moralista, que detonaria o pobre do tomate vermelho e despreocupado com o próprio sabor. Que nada! A casca também é importante, assim como o conteúdo. Mas saibamos pautar a quantia de cada um; sejamos minimamente interessantes. Assim como os tomates, vermelhos e/ou gostosos.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 18/07/2012
Reeditado em 23/07/2012
Código do texto: T3785168
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