MARÉ ALTA
E lá estávamos nós com uma enorme caixa de isopor no ombro lotada de sorvetes para vender na praia de Itamambuca, litoral norte de São Paulo.
O ritual era o mesmo, depois de viajar quarenta minutos pela BR-55, destino Pincinguaba eu descia do ônibus na entrada da praia mais linda deste planeta, chamada: Praia de Itamambuca, em Ubatuba-SP.
Eu adorava vender sorvetes em Itamambuca, então caminhava até a entrada da praia e dirigia-me até o bar do Zé Prefeito, degustava alguns torresmos, algumas caipirinhas, desamarrava meu carrinho de sorvete que ficava trancado numa velha árvore, colocava minha enorme caixa de sorvetes e saia à procura dos meus primeiros fregueses.
Até chegar à praia não vendia nada, pois os preços dos meus sorvetes não eram nada doces e sim muito salgados... pois vendia os mesmos por um preço muito especial.
Sempre fazia algo diferente para agradar meus clientes: ora promovia alguma história e queria saber o final e quem acertasse ganhava um sorvete e outras vezes a grande diferença estava em colocar o meu carrinho de sorvete em cima de uma enorme pedra que ficava dentro de um riozinho que desaguava no mar e lá eu ficava apreciando todos sentado confortavelmente e de olho no carrinho para que o mesmo não desabasse pedra abaixo.
Os sorvetes eram vendidos para a criançada que ficavam nadando no riozinho e era muito divertido quando alguma moeda caia da mão da criançada e eu dizia que tinha que pegar a moeda no fundo do riozinho senão não venderia o sorvete e era muito engraçado ver as crianças mergulharem a procura das moedas perdidas e quase sempre encontravam e a alegria estava completa entre todos.
Aquele domingo estava todo especial, pois tínhamos sido presenteados com um dia maravilhoso, um céu que se misturava com o mar e um Sol que iluminava toda nossa felicidade.
O dia foi passando vagarosamente e todos pareciam muito felizes com aquele dia maravilhoso, pois eu escutava sorrisos altos motivados por boas doses de caipirinhas, crianças correndo, pulando, nadando e eu lá firme em cima da pedra com o meu carrinho de sorvete e alguns turistas até tiravam algumas fotos por ver um sorveteiro diferente com um carrinho numa pedra rodeado de água por todos os lados.
Quase todos os sorvetes tinham sido vendidos e era hora de sair do meu inusitado posto de trabalho e foi aí que aconteceu a grande surpresa: Não havia como sair de cima da pedra, pois a maré tinha subido e o carrinho teve que sair com a ajuda de muitas crianças que alegremente ajudaram-me a tirar o mesmo e após muito esforço coloquei meu carrinho na praia, distribui o restante dos picolés para a criançada e fui embora muito feliz e agradecendo a Deus por aquele dia maravilhoso. Dia de Maré Alta.