Os meus vizinhos bem-te-vis

Há algum tempo, eles se instalaram no transformador de energia de um poste em frente à minha casa. Eu me encanto com eles. Quando acordo, já estão festejando o dia. Quando me debruço na varanda, estão pousados no fio de luz, felizes da vida, ajeitando as asas como se estivessem preparando os seus smokings para se apresentar em um recital.

Olho para eles, tentando fazer algum contato para que venham até ao parapeito da jardineira para se alimentar, mas nem se tocam... Vejo como estão bem, batem as asas e cantam alegremente e, um versículo da Bíblia, me vem à mente: “Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta”. Mt 6,26. Mas, mesmo assim, eu desejaria tanto que viessem alimentar-se na minha varanda!

Coloco canjiquinha de milho e penso: o amarelo vai atraí-los e vão acabar vindo... Mas não se dignam a chegar nem ao menos à jardineira. Talvez não gostem de canjiquinha como os outros passarinhos que alimento no fundo da casa. Estes me aguardam saltitantes e serelepes. E quanta euforia aprontam quando coloco a canjiquinha na vasilha! São pardais, andorinhas, rolinhas, tizil... Penso comigo: quem sabe os bem-te-vis estão participando do banquete sem que eu os veja? Faço várias visitinhas ao local, observando a distância, mas nada!

Lembro-me de que quando eu era criança, tentava amansar um gato preto que, de vez em quando, aparecia na fazenda. Tentei de todo jeito atraí-lo, porém não consegui. Eu deixava o alimento perto da represa e saía. Ele era muito arisco e só aparecia por lá quando tinha certeza de que ninguém ia surgir para flagrá-lo. Tive que me contentar em saber que ele se alimentava do que eu levava, mas eu nunca consegui acariciá-lo.

Mas, os bem-te-vis me alegrariam apenas se pousassem na minha jardineira. Se o fizessem, eu não ia nem respirar para que não se assustassem. Seria uma glória, vê-los ali, se esbaldando, saltitantes e felizes...

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 16/07/2012
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