O MUNDO DA FIBRA ÓPTICA
Minúsculos fios de vidro fazem a conexão de milhões de pessoas, promessas de contato eterno entre seres diversos. Seres estes que se encontram cada vez mais sozinhos, perdidos e imersos em anos que parecem meses, meses que parecem dias e dias que se contam em horas. É assim que às vezes vejo o mundo, ainda que o veja do alto de uma pequena cidade.
Tenho o privilégio de assistir a um belo pôr do sol, como se alheia fosse, deste mundo, mas eis que avisto fios e fios ligando lares, traçando amizades, aliciando ingenuidades e me deixo levar por este mundo, adentrando na rede. Em segundos posso estar onde quiser, viajar, navegar, estudar ou só perder o meu tempo em fúteis passeios. Tenho o mundo nas mãos, tenho a escolha de onde ir. Por vezes me sinto perdida, me encontro em afetos desconhecidos, cidades magníficas, livros impressionantes, filmes fantásticos, e uma tela com um lindo pôr do sol me faz recordar meu mundo real! Quando volto meu olhar para a janela a procura do espetáculo que assistia, percebo que a escuridão tomou conta e os minutos que dispensei foram na verdade horas. Decido me despedir de alguns amigos e fechar as janelas deste mundo, e mais uns minutos me roubam horas. Meu livro do Gabriel Garcia Márquez continua com o marcador na mesma página há prováveis cinquenta dias. Deito-me exausta na promessa de ler algumas páginas na manhã seguinte.
A cidade desperta cedo, sinos badalam, e a melodia dos pássaros me leva à janela como se conduzida de forma mística. Espreguiçando abro as cortinas, ouço o som dos meus pequeninos amigos que estão postados em fios. A fibra óptica me seduz. Como que hipnotizada ando até o computador e me conecto ao mundo. Ou me desligo dele?