A vida de Antônio
 
Em um vilarejo no interior do Piauí há sessenta anos nascia Antônio, um garoto raquítico, franzino, quando completou um aninho, sua mãe cansada daquela vida vazia sem perspectiva de melhora, com seu companheiro, que alem de ignorante costumava ser bruto e às vezes até violento.
Por tudo isso, um dia ela resolveu ir embora para sempre, deixando o pequeno Antônio.
 Ele foi crescendo sem o carinho da mãe.
Seu pai não demorou se juntou com uma moça bem mais jovem, que também tornava a vida de Antônio mais difícil, pois já não tinha conforto, nem podia brincar com as crianças da sua idade.
Abandonou a escola muito cedo, porque tinha que trabalhar na roça com seu pai.
Quando nasceu sua irmãzinha, ele também se tornou babá.
Antônio foi crescendo, revoltado, estressado, mal humorado, sem amor, sem carinho e apanhando todo dia.
Quando completou dezesseis anos, por intriga da sua madrasta, levou uma surra, foi então que se revoltou e disse: - Pare de me bater meu pai, não avance mais ou não respondo por mim. Dizendo isso ele pegou uma espingarda e apontou para seu pai e disse: - Chega, não vou mais apanhar, estou indo embora.
Colocou algumas peças de roupa em uma mochila e saiu de casa dizendo que nunca mais voltaria.
Perambulou pelas ruas sem rumo certo, vivendo ao relento, embaixo de sol e chuva, acabou ficando muito doente, até que alguém caridoso o levou para o hospital, e lá ele ficou durante três meses na UTI, estava desenganado, quando um medico se compadeceu do seu estado e resolveu cuidar dele, seu pai foi avisado mais não fez uma única visita.
Pouco tempo depois ele já estava melhor, resolveu que ia atrás de sua mãe, onde ela estivesse em busca do amor e carinho que não teve.
Começou a procurar sua mãe incansavelmente, estava ansioso e cheio de esperanças de uma vida melhor e sonhava com o abraço carinhoso de sua mãe e de recuperar todo tempo que ficou sozinho.
Procurando aqui e ali finalmente ele achou sua mãe, e toda aquela euforia, acabou em tristeza e decepção.
Pois quando sua mãe colocou os olhos nele, foi logo dizendo: - o que você está fazendo aqui? Seu lugar é lá com seu pai, de onde você nunca devia ter saído.
Antônio cabisbaixo colocou a mochila nas costas e saiu carregando o peso do seu infortúnio da sua frustração.
O tempo passou, ele conheceu uma moça, logo se juntaram porque ela estava grávida dele e não tinha para onde ir.
Mais a saga de Antônio não tinha terminado, sua esposa morreu assim que deu à luz.
A história estava se repetindo, Antônio ficou sozinho com seu filho.
Foram tempos muito difíceis, sempre contava com a ajuda de alguém para cuidar do pequeno José, enquanto ele trabalhava.
Os anos passavam, José se tornou uma criança difícil, solitária, inquieta, rebelde e até violenta, brigava na escola, jogava pedras nos patos, nos cachorros. Quando Antônio chegava do serviço, sempre tinha alguém esperando para reclamar de José.
Antônio cansado, sem saber o que fazer, tomou uma decisão, levou José e entregou para o seu padrinho. Foi trabalhar em uma construtora que viajava por todo Brasil, até fora. Nunca mais procurou o filho, nem o pai.
 Sempre trabalhando no pesado, porque não tinha estudo, mal humorado, marrento, hoje ele é apenas um dos milhões de Antônios que vivem por aí, trabalhando de dia para comer de noite.
Já com sessenta nos, mora sozinho, e assim terminará seus dias.
 Talvez se tivesse o carinho e amor de sua mãe, tudo poderia ser diferente, não teria tanta amargura em sua vida, porque só o amor tem o dom de transformar as pessoas e fazê-las felizes.