O Brasil e a inépcia da adolescência.

Já estou saturado, cheio de ver, todos os dias, as notícias sobre o Brasil. Crimes, assaltos, assassinatos, narcotraficantes, milicianos, afligem a população em geral, são o feijão-com-arroz da imprensa, enquanto não surge um fato relevante, um desmoronamento, uma inundação, um rompimento de barragem tóxica.

Escândalos políticos estão fora de moda, já saturaram o distinto público, após a eleição presidencial confirmando o que se afirmava: os escândalos políticos eram, realmente uma arma de propaganda política para uma oposição cujas propostas políticas se esgotaram. Hoje o panorama político está bastante claro e vemos os dois ex-aliados quase rompidos, o PSDB fazendo seminários para descobrir qual a agenda política capaz de conquistar o eleitorado e o velho PFL sem rumo quer até mudar de nome.

Mas o país encontra-se um aturdido vislumbrando um futuro terrível. A questão da segurança assume uma intensidade insuportável, motivando a discussão sobre a lei e o endurecimento das punições, fala-se abertamente em pena de morte e estamos próximos da retomada de linchamentos exemplares.

Paradoxalmente a chamada milícia ocupou o território dos traficantes em cerca de 90 favelas, das 700 que há no Rio, demonstrando que é possível controla-las, e, de alguma forma aumentando o índice de ocorrências no asfalto da cidade, onde bandidos sem território tentam levantar o capital que lhes está faltando pela redução dos negócios nos morros. No velho oeste americano ganhariam, provavelmente, uma estrela de xerife, como Bat Masterson, mas aqui isso não é possível.

Os casos de incidentes com mortes de inocentes se sucedem, geralmente em ataques por marginais novatos e incompetentes a automóveis. Um caso revoltou particularmente a população, o da morte do menino João Hélio, de seis anos de idade, arrastado por quilômetros impiedosamente, atrelado ao cinto de segurança do carro. Aqui se revela toda a sordidez da nossa sociedade, onde um menino é morto pela ação precipitada de um grupo de delinqüentes também meninos com idade de 18 anos. Meninos como esses também estão morrendo no Iraque, segurando armas com a conivência das autoridades, mas não estão fazendo assaltos atabalhoados que resultam apenas na morte e na ruína para suas vidas e a de muitas outras vidas.

Tenho lido muitos artigos, ensaios e crônicas abordando esses aspectos brutais de nossa sociedade. Quase todas clamam por mais rigor na aplicação das leis. Alguns, mais ousados chegam a colocar a culpa na democracia e no “liberalismo” induzindo uma certa saudade da ditadura e do autoritarismo, quando “coisas como essas não aconteciam”. Sim, não aconteciam e mesmo que acontecessem ninguém ficaria sabendo visto que não havia liberdade de imprensa.

Enfrentar os desafios de uma sociedade cuja população cresce, com as grandes megalópoles e seus problemas de massas, sua falta crônica de empregos, seus graves problemas de habitação e transportes, sua deficiência educacional e cultural, enfim, uma sociedade sem perspectivas de curto, médio ou longo prazo, mantendo a democracia é tarefa para toda uma geração de homens de bem e de políticos que estejam engajados nela, com espírito público e sem os compromissos com os velhos grupos de poder. Sem essa disposição não há realmente aonde chegar.

De imediato, diante da emergência da crise, só podemos desejar que se consigam, pelo menos salvar os mais jovens, arrumar para eles alguma perspectiva, desviando-os do caminho do crime e evitando que cheguem a cometer tais barbaridades com a inépcia da adolescência.