A MESMA CANÇÃO
Eu era menino, meu pai um homem de meia idade, jeito rude, coração adoçado, que encarnava na alma, no corpo, na conduta e nas ações a figura e a realidade do provedor, protetor e guardião das suas crias todas, mas eu achava que toda sua pompa era toda para mim. E ele cantava e eu ouvia atento aquela velha moda sertaneja (não lembro o autor), que lembro de alguns versos e que dizia:
“O meu pai já tá velhinho,
Não pode mais trabalhar,
Brincando com seu netinho,
Passa o tempo,
A recordar”
Eu fui crescendo e ele amadurecendo. E ele continuava cantando a sua moda. Eu ouvia sempre muito atento, sempre muito intrigado com o seu repetitivo gosto por essa canção. Eu também fui amadurecendo e ele já envelhecendo e a mesma canção. “O meu pai já tá velhinho....”.
Olhava-o a distância. Ele com o olhar distante e cantarolando a canção. Eu construía imagem de um homem bem velhinho, aposentado, sentado na calçada e cantando enquanto um menino brincava de peca a sua frente, alheio as lembranças do velho avô.
Ele envelheceu de vez. Aposentou. Vezes em quando vinha passar uns dias na minha casa e lá também cantava a mesma canção, enquanto meu filho brincava de carrinho sob os seus olhos e eu via a canção se materializando. “O meu pai já tá velhinho....”.
Meu pai se foi. No dia do funeral eu lembrava dele cantando aquela canção. Meu filho já estava grande, já não brincava de carrinho e eu já estava amadurecendo. Meu pai já não cantava olhando meu filho e eu já não o olhava cantando. Já não tinha mistério. Eu já não precisava compor imagens. Eu tinha assistido as imagens.
Meu pai se foi. Eu continuei cantando a mesma moda sertaneja. Já estou envelhecendo. Meu filho já está amadurecendo. Meu neto brinca enquanto eu canto a mesma moda... “O meu pai já tá velhinho, não pode mais trabalhar, brincando com seu netinho, passa o tempo a recordar”.
Hoje eu sei porque me pai gostava e cantava tanto essa canção sertaneja. Sei sim. Canto a mesma moda, pelos mesmos motivos.
Eu era menino, meu pai um homem de meia idade, jeito rude, coração adoçado, que encarnava na alma, no corpo, na conduta e nas ações a figura e a realidade do provedor, protetor e guardião das suas crias todas, mas eu achava que toda sua pompa era toda para mim. E ele cantava e eu ouvia atento aquela velha moda sertaneja (não lembro o autor), que lembro de alguns versos e que dizia:
“O meu pai já tá velhinho,
Não pode mais trabalhar,
Brincando com seu netinho,
Passa o tempo,
A recordar”
Eu fui crescendo e ele amadurecendo. E ele continuava cantando a sua moda. Eu ouvia sempre muito atento, sempre muito intrigado com o seu repetitivo gosto por essa canção. Eu também fui amadurecendo e ele já envelhecendo e a mesma canção. “O meu pai já tá velhinho....”.
Olhava-o a distância. Ele com o olhar distante e cantarolando a canção. Eu construía imagem de um homem bem velhinho, aposentado, sentado na calçada e cantando enquanto um menino brincava de peca a sua frente, alheio as lembranças do velho avô.
Ele envelheceu de vez. Aposentou. Vezes em quando vinha passar uns dias na minha casa e lá também cantava a mesma canção, enquanto meu filho brincava de carrinho sob os seus olhos e eu via a canção se materializando. “O meu pai já tá velhinho....”.
Meu pai se foi. No dia do funeral eu lembrava dele cantando aquela canção. Meu filho já estava grande, já não brincava de carrinho e eu já estava amadurecendo. Meu pai já não cantava olhando meu filho e eu já não o olhava cantando. Já não tinha mistério. Eu já não precisava compor imagens. Eu tinha assistido as imagens.
Meu pai se foi. Eu continuei cantando a mesma moda sertaneja. Já estou envelhecendo. Meu filho já está amadurecendo. Meu neto brinca enquanto eu canto a mesma moda... “O meu pai já tá velhinho, não pode mais trabalhar, brincando com seu netinho, passa o tempo a recordar”.
Hoje eu sei porque me pai gostava e cantava tanto essa canção sertaneja. Sei sim. Canto a mesma moda, pelos mesmos motivos.