CORTINAS
Abro os olhos, e vejo o dia deitar seus raios iluminados sobre as águas do rio, bem à frente de minha janela.
Esse é um dos motivos porque reluto, e não coloco cortinas nas vidraças do apartamento. Não há nada à frente delas, além das águas calmas do imenso e lindo rio.
Gosto de acordar cedinho, e ver o Criador anunciando mais um amanhecer. Fico perplexa tal qual criança que vê algo pela primeira vez. E, trantando-se, do nascer e do morrer do dia, sinto que, sempre é minha primeira vez.
Por isso, vejo as cortinas como um entrave entre a transparência das vidraças e a natureza. Então, resisto a ideia, de tapar a claridade delicada, que vem beijar logo cedinho, todo o recinto.
Como invalidar, de ainda em meu leito enxergar as gaivotas que passam num suave bailar. Parece para mim, que dançam para o Criador, em agradecimento pela luz de um novo dia.
Poder contemplar extasiada o dia que nasce e derrama seu brilho sobre as águas do rio, num espetáculo de tirar o fôlego, faz minha alma levitar.
Me deixo ficar quieta, muito quieta. O mínimo movimento quebraria o encanto daquele magnífico espetáculo, do qual ELE, é o autor.
Devagar, sem pressa, vejo a noite se fazer dia. A escuridão se pintar de prateado, e o manto alvo/azulado encobrir o outro todo estrelado. E quando o dia está plenamente instalado, e as aves já diminuíram seu canto e bailado, eu volto a adormecer, não sem antes agradecer, a ELE, a beleza da casa plenetária que me permitiu nascer e viver.
(foto da autora)