Palavras Malditas
Rosa Pena
Carlos avisou a Beatriz que não queria discutir a relação. Sempre acabava em briga. Mas Beatriz insistiu, pois ela queria saber o porquê da falta de apetite sexual dele.
Ela estava com a corda toda. Começara a fazer reposição hormonal, e o Libian (seu hormônio) tinha virado seu ídolo. Libido a mil.
Carlos tentou desconversar, mas diante da insistência dela falou num rompante:
- Querida, quando lhe abraço sinto estes seus pneus laterais, sinto sua pele sem aquele fulgor, daí meu fogo some. Aliás, perdi o tesão em quase tudo.
- Mas você fica muito animadinho quando conhece as amiguinhas de nossa filha. É do tipo velho assanhado?
- Bia, não tente se comparar com meninas de vinte anos. A pele delas brilha, e se abraçadas são lisinhas na frente, na lateral. Bundinhas e peitinhos no alto. Tudo no lugar.
- Você está se achando. Veja o movimento dos meus cabelos!
- Vi e daí?
- Dai, que a sua cabeça está lisa, lustrosa. Sorte é mulher demora a ficar calva. Homem perde o cabelo rapidinho e calvície não é símbolo sexual, por mais que vocês tentem se convencer disso. Até musiquinha fizeram. “É dos carecas que elas gostam mais”. Será?
Fingimos que gostamos por causa da escassez de macho no mercado. Mais, se o bofe tiver grana, não precisa nem ter membro.
- Está falando bobagem. Cabelo não significa virilidade e eu ainda agrado muito se quer saber.
- Legal! Ta com tudo no lugar em cima...Sabia que os testículos também caem? Vá lá e olhe-se no espelho. Aproveita e reflete. Viagra só resolve uma parte da situação e muitas vezes acaba com o coração.
Silêncio absoluto no recinto. Cada um vai para um lado.
Como a maioria das discussões, sem fim, sem conclusão. Fica apenas a mágoa.
Ela no quarto passa hidratante quase com ódio. Ele no banheiro analisa seu corpo.
No fundo sabem que a relação está com mais rugas que o rosto, mais caída do que os seios e o saco. Gastou-se nessas brigas, nessas buscas, na aspereza dessas palavras. Certas coisas não devem ser ditas. Depois não tem volta. São palavras mal ditas e malditas.
O amor deveria acabar em silêncio.
Rosa Pena
Carlos avisou a Beatriz que não queria discutir a relação. Sempre acabava em briga. Mas Beatriz insistiu, pois ela queria saber o porquê da falta de apetite sexual dele.
Ela estava com a corda toda. Começara a fazer reposição hormonal, e o Libian (seu hormônio) tinha virado seu ídolo. Libido a mil.
Carlos tentou desconversar, mas diante da insistência dela falou num rompante:
- Querida, quando lhe abraço sinto estes seus pneus laterais, sinto sua pele sem aquele fulgor, daí meu fogo some. Aliás, perdi o tesão em quase tudo.
- Mas você fica muito animadinho quando conhece as amiguinhas de nossa filha. É do tipo velho assanhado?
- Bia, não tente se comparar com meninas de vinte anos. A pele delas brilha, e se abraçadas são lisinhas na frente, na lateral. Bundinhas e peitinhos no alto. Tudo no lugar.
- Você está se achando. Veja o movimento dos meus cabelos!
- Vi e daí?
- Dai, que a sua cabeça está lisa, lustrosa. Sorte é mulher demora a ficar calva. Homem perde o cabelo rapidinho e calvície não é símbolo sexual, por mais que vocês tentem se convencer disso. Até musiquinha fizeram. “É dos carecas que elas gostam mais”. Será?
Fingimos que gostamos por causa da escassez de macho no mercado. Mais, se o bofe tiver grana, não precisa nem ter membro.
- Está falando bobagem. Cabelo não significa virilidade e eu ainda agrado muito se quer saber.
- Legal! Ta com tudo no lugar em cima...Sabia que os testículos também caem? Vá lá e olhe-se no espelho. Aproveita e reflete. Viagra só resolve uma parte da situação e muitas vezes acaba com o coração.
Silêncio absoluto no recinto. Cada um vai para um lado.
Como a maioria das discussões, sem fim, sem conclusão. Fica apenas a mágoa.
Ela no quarto passa hidratante quase com ódio. Ele no banheiro analisa seu corpo.
No fundo sabem que a relação está com mais rugas que o rosto, mais caída do que os seios e o saco. Gastou-se nessas brigas, nessas buscas, na aspereza dessas palavras. Certas coisas não devem ser ditas. Depois não tem volta. São palavras mal ditas e malditas.
O amor deveria acabar em silêncio.