DO QUE TENHO SAUDADES...
Tenho saudades das noites da minha infância, quando o firmamento era mais pontilhado de estrelas, a Via-Láctea formava um caminho mais compacto, o Cruzeiro do Sul brilhava mais intensamente e as Três Marias pareciam piscar para mim. Hoje o céu que eu vislumbro já não é tão estrelado assim.
Tenho saudades das canções da minha juventude, repletas de conteúdo, com letras que tinham sempre algo a transmitir e as melodias embalavam a alma. Como o rock simplório dos Beatles que nos fazia dançar e nos causava enlevo. Hoje tenho que colocar tampões nos ouvidos para não escutar o som estridente e sem sentido que tocam nos carros e as aberrações das pseudo letras.
Tenho saudades da Literatura pura, sem sensacionalismo, que devorei avidamente grande parte da minha vida. A Literatura sadia da minha adolescência que incutiu em mim o gosto por boas leituras, o espírito crítico e inquisidor, a busca incessante pelo conhecimento. A Literatura que me deu a capacidade de opinar entre as boas e as más obras. Hoje existem tantas porcarias que, sem discernimento, muita gente se deixa seduzir por livros que, numa jogada de marketing, se tornam best sellers e nada acrescentam, a não ser dinheiro na conta dos autores e editoras.
Tenho saudades dos valores que meu pai me repassou, do respeito e da honestidade que permeavam as relações entre as pessoas, dos negócios lícitos, da política ideológica, do trabalho em prol de um País melhor. Hoje o individualismo tomou conta de dirigentes, o dinheiro corrompeu muita gente, a esperança de uma vida digna para todos se tornou quase uma utopia.
Tenho saudades de tantas coisas e, hoje, sinto tristeza porque tanta coisa não vai deixar saudades em mim...