O CIRCO!
Quem não tem gravado na memória a lembrança de um circo em sua cidade, principalmente se esta cidade está situada no interior do Estado, é pequena e geralmente sem grandes novidades, pois atrativos, diversão, brinquedos, folguedos, nadar nos riachos, subir em árvores, correr pelas ruas empoeiradas, andar de bicicleta, jogar bola, brincar de pic esconde e mais um milhão de coisas, eram comuns, era o nosso dia a dia, mas a presença de um CIRCO na cidade era maravilhoso, repare que estou falando da nossa meninice, na década de cinquenta, século vinte, ih! Tá parecendo tão distante... Mas tenho certeza que quem ler esta narrativa, vai ter tudo intacto na memória.
Voltando ao Circo, diga-se de passagem, estou falando daqueles bem simples, bem artesanais, lona gasta pelo tempo, arquibancadas de tábuas e camarotes considerados chics, e realmente eram sempre reservados para as autoridades da cidade, como Prefeitos, Padres e demais habitantes que eram mais importantes. Isto nada significava para as crianças que eram as mais empolgadas, e podem crer a maioria dos adultos se entusiasmavam até mais, digo com certeza, pois meu pai Pérsio e a minha tia Zilda, que vinha de Pires do Rio, Goiás, onde morava eram os mais animados. Quando a vovó Antônia escrevia para a filha, tia Zilda, que tinha circo em Ipameri-Goiás, ela logo vinha e juntamente com toda familia eram os primeiros a esperar com alegria a tão aguardada estreia. Por falar em estreia, um carro do circo, todo enfeitado, às vezes até com um palhaço na carroceria e anões pulando na frente, iam anunciando a hora e dia do espetáculo.
Como já falei em outras ocasiões, a vovó Antônia tinha uma pensão em frente a Estação de trem, e era a preferida da troupe circense para ficarem hospedados. Tenho que esclarecer que apenas os donos e artistas mais importantes do espetáculo, tinham tratamento especial, os demais ficavam nas barracas armadas em volta do circo, tá certo, pois tinha os animais e demais apetrechos para serem cuidados.
Os circos iam e vinham à cidade anos a fio, as andanças deles eram imprevisíveis, ás vezes voltavam logo, às vezes demoravam muito e com isso foram criados laços afetivos com a família da vovó Antônia, papai sempre contava como a amizade de alguns integrantes que foi se fortalecendo ao longo dos anos. Não vou citar nomes para não deixar ninguém esquecido, mas sei que o proprietário de um destes circos era amigo da família, o nome, não me lembro, mas temos fotos bem antigas dele com papai e demais membros da família. Tenho na memória uma dessas passagens deles por Ipameri, nós ficávamos em volta dos artistas que se hospedavam na pensão da vovó Antônia e olhávamos fascinado eles se aprontarem, ensaiarem para a função, que era como eles falavam, parecia um sonho.
Papai, mamãe, Renato, Ronaldo e eu herdamos da vovó Antônia este amor pelo circo. A gente quase morria de rir, quando o palhaço aparecia vestido com a camisola da vovó, ela emprestava com prazer. Ele, nas suas brincadeiras, caía no colo do papai que estava na plateia (camarote) e gritava: me salva “meu papai Pérsio”, como se estivesse sendo perseguido pelos outros palhaços em alguma brincadeira, não preciso dizer como todos caiam na risada, a cidade inteira brincava com o papai, mas ele não importava se divertia muito. Até o leão que ficava dando voltas dentro da jaula no picadeiro parava em frente ao camarote do papai e fazia xixi. Imaginem o riso geral!
Todos na cidade gostavam e respeitavam estes inesquecíveis e verdadeiros artistas da arte de trazer alegria para todos, sem distinção, a minha sincera homenagem a todos.
Goiânia 09 de abril de 2011. Sônia
Legenda e referências pessoais:
Antônia Pedroso de Moraes- minha avó Totonha;
Zilda Paranhos – minha tia irmã do papai;
Pérsio Pedroso de Moraes- meu pai;
Paulina de Souza Moraes – minha mãe;
Renato e Ronaldo Pedroso de Moraes, meus irmãos;
Pires do Rio-Goiás, cidade do interior;
Ipameri- Goiás- cidade do interior;