UMA VIDA ESTÉRIL.

Um amigo que não via datava algum tempo esbarra comigo na rua em hora de jogar conversa fora, durante minhas caminhadas matinais.

Fomos tomar um “capuccino”. Em tom confessional disse que lamentava a esta altura da vida nada ter feito de expressivo que pudesse deixar como marca de sua passagem. Estava realmente comprometido com essa ideia. Vi que o afligia quando nesta quadra da vida devemos perambular livre, leve e solto pelas paragens que decidimos percorrer, sem traumas, sorvendo o que de bom a vida nos tem a dar. E ele era um profissional de ponta que tinha contribuído fortemente com as letras jurídicas.

Perguntei a ele a razão dessa tristeza e ele ficou sem resposta. Disse; não sei.

Ele tinha quatro filhos, muitos netos, vivia em extrema harmonia, conhecendo o mundo no que era de seu prazer, quase sempre colado na família, muito unida.

Ponderei então. Fique um pouco em silêncio e veja se está acostumado a agradecer a alguém, ao próprio tempo e à natureza por estes bens que lhe foram dados, seus filhos, seus netos, seus dons profissionais, a ajuda que neste sentido passou para muitos, o tanto que sua atividade proporcionou para melhorar a sociedade em tudo, com sua mente interferindo e construindo. A utilidade de sua vida que lhe dá agora o benefício do retorno que você deve desfrutar ao invés de estar magoado com você mesmo sem nenhuma razão.

Ele me olhou e disse: Celso, obrigado, estava cego, talvez seja o ócio, o hábito do trabalho que cessou e talvez esteja me deixando deprimido.

Vi que tinha ao se despedir de mim outro olhar, mais vivo, como se tivesse nascido de novo.

Precisamos medir e avaliar nossos passos e agradecer por nossa jornada; EM SILÊNCIO. Quantos nada tem em seu redor, nunca tiveram um trabalho na vida que faz crescer, uma família unida com seus descendentes, alegria nas festas rodeada de filhos, netos, amigos.

Para muitos falta amor, inexiste carinho, sempre foi ausente a solidariedade, mínima ou máxima, uma vida de conveniências, com trocas quase de dependências, mercantis ou interesseiras.

Os que viveram com utilidade são eleitos pela natureza pela dádiva de poderem olhar a jornada e agradecerem. Não existem aflições, corridas, ansiedades, o compromisso é com a paz e o agradecimento.

Assim, o retorno se materializa a cada instante, é como soprassem nos seus ouvidos um canto diferente, que poucos podem ouvir, a vida os treinou para essa melodia. Devemos agradecer e ouvir em silêncio a paz da consciência. Foi ela que aliada à natureza deu esses bens maiores no curso da estrada, o trabalho que edificou, a família que fez amor e sucessão, a alegria que nos envolve.

Agradecer é basilar, poder respirar a paz no abrigo da consciência é o maior premio.

Muitos são aterrorizados por suas dívidas que sacodem suas mentes na eterna cobrança do que fomos ou fizemos em prejuízo de nossos semelhantes e muitos correm atrás de buscarem o que nunca vão encontrar, sem sossego.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 13/07/2012
Código do texto: T3775464
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