ADEUS MULHER RENDEIRA...
Um dos fenômenos econômicos mais chamativos da dita "globalização" é o fato de que as "culturas" parecem algo em risco, ou seja, aquelas características que marcam produtos legitimamente culturais, na sua maioria riquezas autóctones artesanais, as que conferem identidade legítima atemporal aos seus povos, hoje são copiados industrialmente em "linhas de produção" por parte dos países asiáticos.
Bingo!- para quem conseguir, no nosso entorno mundial, achar um produto original da terra que visita.
Neste mundo hoje pouco se cria, mas acreditem, absolutamente tudo se copia...com quase exímia perfeição, não fossem a peritagem dos olhos profissionais mais treinados e a qualidade a denunciarem a avalanche das cópias.
O fato que inspirou este meu texto ocorreu comigo mais precisamente no nordeste do Brasil.
Não faz muito tempo eu andava por ali naquelas feirinhas de artesanato, dessas espalhadas por todo o nosso país, quando um colorido de colares me chamou a atenção.
Ah, adoro colares coloridos!
Ricos que somos em produtos naturais , fibras, sementes e uma infinidade de matérias primas que tão bem são aproveitadas para compor a beleza do nosso vasto e cobiçado artesanato, muitas vezes artesanatos exclusivamente próprios de determinada região, então, acreditei que se tratavam de colares "legítimos da terra".
E qual não foi minha surpresa quando a vendedora me informou: "não são sementes, são produtos feitos na china".
Não acreditei!
"Estão copiando até as sementes brasileiras"... pensei, que hoje são falsificadas em madeira colorida industrialmente.
E por aí vão as demais culturas do mundo, tudo falsificado, pouco legítimo a ser encontrado, mas tudo a ser bem faturado...ainda mais em época de crise. E quem falou em crise? Eu não fui!
Aqui por São Paulo, lojas de grifes famosas escondem nos seus altíssimos preços de peças "personalizadas", etiquetas minuciosamente perdidas, fora do alcance dos nossos olhos, aonde se lê: "made in china".
Soma-se ao fato que na era da globalização, em que os comportamentos sociais estão "linkados" e ditados pelas "redes" hoje é mais difícil alguém se interessar, por exemplo, a aprender a rendar ou a bordar.
Recentemente aqui conversando com uma senhora portuguesa especializada em "bordados da Ilha da Madeira", ela me dizia que a cultura da ilha está morrendo pois não há mais tanto interesse da atual geração no aprendizado da arte daquele belíssimo artesanato.
Decerto que não faltará a tal arte ao mundo via "cultura made in China".
Para uma civilização milenar como a chinesa, cujo acervo cultural encanta o mundo, é de se espantar que o poder sem fronteiras e sem medida do capitalismo globalizado a tenha alcançado a ponto de negar a sua própria História, de certa forma "anti-capitalista".
Hoje temos um mundo repetitivo- tudo igual!- despersonalizado, falsificado, "desaculturado", incrivelmente quebrado, mas que tenta a todo custo etiquetar as pessoas com falso glamour cultural.
Um ilegítimo "MUNDO MADE IN CHINA".
Termino este meu presente ensaio com um lamento poético:
Adeus mulher rendeira...
Que um dia reinou a rendar,
Guardarei a sua fina renda
Para o meu coração remendar.