AS CINCO DA TARDE
Cinco da tarde, hora sagrada das garças, vinham dos vales, organizavam-se em grupos, alçavam voos planejadamente brancos,
atravessavam a pequena vila, sobre olhares mudos das poucas pessoas, que admiravam o belo.
Não era dia, nem noite ainda, havia uma junção de azul e rosa
num céu de inverno abstratamente lindo, que acabara de nascer .
Todas chegavam juntas, numa maratona sem competição,
pousavam ruflando as asas, sobre o mais alto eucalipto,
num equilíbrio lúcido, no trapézio dos galhos.
Num impulso e juntas, iniciavam o balé tão esperado,
em círculos lentos e sincronizados iam e vinham, ao redor da árvore que dançava viva e lúdica, no ritmo do vento que cantava.
Acomodados nos galhos, três urubus acompanhavam, o espetáculo magistral, num movimento lento, de cabeças e bicos, não sorriam, mas viam a mágica da hora e lá de baixo, olhos sorriam e aplaudiam,
depois fechavam-se com a cortina da noite.