O Primeiro Capítulo
Acordei com o grito na noite. Um grito único expressando a solidão total. Como uma ilha cercada de silêncio. Nem o retorno do eco aconteceu. Ninguém respondeu. Nenhum carro nas ruas, nenhum som da TV se espalhando, entrando sem ser convidado pelas paredes frias da noite. Outra vez o mesmo grito e mais outra. Nenhum cachorro latiu, nem os dos vizinhos, nem os de rua, nem os meus. Eu ouvia nitidamente: Soocoorro. Um grito na noite, um grito no sonho e o sono se foi. Bem acordada levantei-me e olhei no relógio. Madrugada e pensei que precisava fazer alguma coisa, mas era cedo demais para qualquer coisa. Pela quarta vez naquela noite o pedido se socorro se fez ouvir, agora com resposta, embora distante. Onde estariam os donos desses gritos na noite silenciosa? Impossível imaginar nas noites de minha cidade, quintais onde galos cantassem tristemente. Um galo pedindo socorro na noite escura é triste e deprimente. Nunca antes ouvi um galo assim, se estendendo como se quisesse atingir uma estrela. Esse galo da madrugada sempre me acorda com seu lamento triste e eu fico tentando adivinhar onde teria um poleiro para o galo chorão descansar. No dia seguinte esqueço tudo e só volto a lembrar quando outra vez o pedido de socorro me acorda e eu tenho que buscar subterfúgios para outra vez adormecer. Nessa última noite fiquei pensando no romance que resolvi escrever.
Tem que ser assim, de repente, como o galo cantando na noite. Eu penso e penso e nada brota. Nenhum dos livros que escrevi teve um plano. Eles vieram de repente, como algo psicografado, mas não é de nenhum ser que não seja eu mesma. Assim foi com O Cachorro Amarelo e o Clube do Cravo Vermelho, os dois primeiros volumes do que seria a Trilogia Morro Alto. Já o terceiro volume, que seria Os Filhos de Abud, eu planejei e empaquei. Escrevi alguns capítulos gravei em disquete e simplesmente me esqueci dele. Como o também planejado As mulheres da Rua do Fogo, com as protagonistas representando as deusas mitológicas. Faz poucos dias que os achei em um fundo de armário e passei para as mãos de um amigo que vai tentar recuperá-los. Também o Círculo Finito, que escrevi em parceria com meu amigo B., aconteceu assim – não planejei nada. Recebia um capítulo por e- mail e escrevia outro capítulo enviando também por e-mail e ficou um livro bonito. A Mulher Ensombrada fui escrevendo de acordo com os temas propostos pelo desafio do Encanto das Letras e a história foi crescendo sem que nem eu soubesse o que iria acontecer. De repente, cansei e parei. Agora estou com um capítulo na cabeça, sugerido por minha amiga Anita, quando soube da minha fascinação pelo branco. Não qualquer branco, mas o branco do leite, dos copos de leite. Está na cabeça, na ponta dos dedos, mas não sai.
Eu estava lendo um livro noite dessas e fui interrompida pelo canto lamentoso de um galo. O galo parece pedir socorro e tem o dom de me comover. E foi em uma noite dessas, ouvindo esse canto de eras e lugares antigos que me veio à idéia. O canto parecia varar a noite, parecia estar longe no espaço e ao mesmo tempo parecia vir do quintal do vizinho que não tem galo. Como se chegasse até a mim atravessando uma fenda no tempo. Uma fenda no tempo. Essa expressão ficou martelando em minha cabeça não me deixando dormir. Eu me levantei e escrevi o Primeiro Capítulo.
Acordei com o grito na noite. Um grito único expressando a solidão total. Como uma ilha cercada de silêncio. Nem o retorno do eco aconteceu. Ninguém respondeu. Nenhum carro nas ruas, nenhum som da TV se espalhando, entrando sem ser convidado pelas paredes frias da noite. Outra vez o mesmo grito e mais outra. Nenhum cachorro latiu, nem os dos vizinhos, nem os de rua, nem os meus. Eu ouvia nitidamente: Soocoorro. Um grito na noite, um grito no sonho e o sono se foi. Bem acordada levantei-me e olhei no relógio. Madrugada e pensei que precisava fazer alguma coisa, mas era cedo demais para qualquer coisa. Pela quarta vez naquela noite o pedido se socorro se fez ouvir, agora com resposta, embora distante. Onde estariam os donos desses gritos na noite silenciosa? Impossível imaginar nas noites de minha cidade, quintais onde galos cantassem tristemente. Um galo pedindo socorro na noite escura é triste e deprimente. Nunca antes ouvi um galo assim, se estendendo como se quisesse atingir uma estrela. Esse galo da madrugada sempre me acorda com seu lamento triste e eu fico tentando adivinhar onde teria um poleiro para o galo chorão descansar. No dia seguinte esqueço tudo e só volto a lembrar quando outra vez o pedido de socorro me acorda e eu tenho que buscar subterfúgios para outra vez adormecer. Nessa última noite fiquei pensando no romance que resolvi escrever.
Tem que ser assim, de repente, como o galo cantando na noite. Eu penso e penso e nada brota. Nenhum dos livros que escrevi teve um plano. Eles vieram de repente, como algo psicografado, mas não é de nenhum ser que não seja eu mesma. Assim foi com O Cachorro Amarelo e o Clube do Cravo Vermelho, os dois primeiros volumes do que seria a Trilogia Morro Alto. Já o terceiro volume, que seria Os Filhos de Abud, eu planejei e empaquei. Escrevi alguns capítulos gravei em disquete e simplesmente me esqueci dele. Como o também planejado As mulheres da Rua do Fogo, com as protagonistas representando as deusas mitológicas. Faz poucos dias que os achei em um fundo de armário e passei para as mãos de um amigo que vai tentar recuperá-los. Também o Círculo Finito, que escrevi em parceria com meu amigo B., aconteceu assim – não planejei nada. Recebia um capítulo por e- mail e escrevia outro capítulo enviando também por e-mail e ficou um livro bonito. A Mulher Ensombrada fui escrevendo de acordo com os temas propostos pelo desafio do Encanto das Letras e a história foi crescendo sem que nem eu soubesse o que iria acontecer. De repente, cansei e parei. Agora estou com um capítulo na cabeça, sugerido por minha amiga Anita, quando soube da minha fascinação pelo branco. Não qualquer branco, mas o branco do leite, dos copos de leite. Está na cabeça, na ponta dos dedos, mas não sai.
Eu estava lendo um livro noite dessas e fui interrompida pelo canto lamentoso de um galo. O galo parece pedir socorro e tem o dom de me comover. E foi em uma noite dessas, ouvindo esse canto de eras e lugares antigos que me veio à idéia. O canto parecia varar a noite, parecia estar longe no espaço e ao mesmo tempo parecia vir do quintal do vizinho que não tem galo. Como se chegasse até a mim atravessando uma fenda no tempo. Uma fenda no tempo. Essa expressão ficou martelando em minha cabeça não me deixando dormir. Eu me levantei e escrevi o Primeiro Capítulo.