Os Opostos se Atraem?
Um dia me disseram que os opostos se atraem. Mas, realmente se atraem?
Bom, me recordo muito bem do dia em que o conheci. Um rapaz alto, corpulento, de cabelos negros, olhos cor-de-mel. Conversava com um amigo - ou seja lá o que for -Gesticulava a cada palavra que dizia, provinda sempre de um sorriso e, em algumas pausas, observava-me, sentada, lendo um artigo de jornal. Ao terminar seu papo, que me parecia interessante, pois ele se apresentava eufórico, pediu permissão para sentar-se ao meu lado e eu, claro, trocaria qualquer coisa por aquele artigo tedioso. Imediatamente nos apresentamos. Seu nome era Bernardo, disse-me. E ao conversarmos, pude perceber que não tínhamos muito em comum. Eu, professora, tímida, caseira. Cheia de crendices. Ele, pra começar, era bem mais novo do que eu, trabalhava como modelo, gostava de sair e de se aventurar. No entanto, estava solteiríssimo – sim, com todas as letras – e eu também (acho que uma das poucas coisas que tínhamos em comum).
Estava estonteante, ao perceber que trocávamos idéias e experiências, sem que me desse conta de que os opostos estavam se atraindo. E pensando melhor, até fisicamente falando, éramos opostos atraídos.
Quando me dei conta, já era noite. “Está muito tarde. Tenho que ir", pensei. Pedi-lhe desculpas e prontamente parti, deixando apenas o número do meu telefone.
A partir dali, meu telefone tocou por muitas vezes. Vezes das quais sempre terminavam num encontro. O tempo foi passando, nosso relacionamento se tornando cada vez mais intenso, no entanto, começaram a tornar também intensos os nossos desentendimentos. Enquanto eu queria ficar em casa, ele queria sair. Enquanto eu queria ouvir Beattles ele já logo me vinha com um tal de Armandinho. Enquanto eu torcia para o Vasco, ele se opunha com o Flamengo. Eu queria doce e ele salgado; eu queria preto e ele branco. Meu Deus! Pára tudo! O que é isso? Por que estamos brigando assim, por motivos banais? Percebi que aquele era o ponto final na nossa história, esta a qual já não era mais de amor, mas de rivalidade. Ele, consideravelmente, concordou comigo.
Bom, agora estou aqui, sentada, novamente lendo um artigo de jornal - e não há ninguém que esteja me observando. – Mas, na verdade, não estou lendo o artigo, estou apenas passando os olhos por entre as letras. Estou pensando. Pensando na tal teoria de que os opostos se atraem, que um dia me disseram ser verdade. Teoricamente falando... Sim, eles se atraem, mas em prática, nunca dão certo por muito tempo.
“Sempre vou querer o branco, enquanto ele, o preto.”
(Julho de 2006)