Bocejos de um dinossauro

Bocejos de um dinossauro





O filme “Precisamos falar sobre o Kevin” deve ser adjetivado como #!!+&#!!*!!, consegui a custo assistir 30 minutos, além de ser um cinema feio é de uma redundância árida, grosseira, Tilda Swinton apanha na cara dos vizinhos e sofre como uma condenada, mas o trabalho não tem bossa, é previsível ao extremo e dotado de umas metáforas que, vou te contar, a arte sofre nas mãos de incompetentes. O que você precisar saber da história (não sei até que ponto o filme segue o livro), leia a resenha do livro feita por Maria Olímpia Alves de Melo, aqui neste Recanto.

Demóstenes, senador caçado ontem (ufa!), invocou o julgamento de Cristo. Pela madrugada! Só não estamos perdidos porque é possível, num momento desses, desligar a TV. Também ontem dois pedreiros foram eletrocutados na Vila Mariana com 13.000 volts. Ninguém volta dessa viagem e esta sim é uma notícia triste. Quantos brasis não foram construídos à custa de vidas que num assim assim se esfumam? Só aqui em Sampa, da minha infância até o presente, uns trinta brasis. Alguém, não faz muito tempo, disse que se você quiser saber sobre a história da América, abra um livro. Sobre a história da Rússia faz-se necessário uma pá. Trocando em miúdos, tá todo mundo debaixo da terra. Humor russo no meio da crônica, lá eles levaram a sério o critério de liquidação em massa. Por aqui já estava mais do que na hora de erguerem um memorial aos que despencam de andaimes.

Nesses meses meados tentei assistir o tal Hugo Cabret, foram 10 minutos estóicos. Somente semana passada descobri, vendo o pôster na locadora, que é direção do Scorsese. Não me admira, tem um tremendo travelling na abertura, coisa de grande cineasta, mas aquele cenário e aquelas figuras, brrrrrr, gosto é gosto.

Agora, você sabe quem assumiu no lugar do Demóstenes? Não? Então cheque e gargalhe. É melhor do que chorar.

Woody Harrelson tem um filme novo em nossas plagas, “Um Tira Acima da Lei”, ô dó, (Sigourney Weaver participa), mais um filme rodado com a câmera quebrada, e sua diversão consiste em admirar o eterno primeiríssimo plano de Woody com óculos escuros fumando cigarros e dirigindo pela LA perigosa, ele é corrupto (perto do “Dia de Treinamento” ele pode ser canonizado), só se consegue assistir porque todas as situações são ligeiras (tudo lugar comum tentando disfarçar essa condição), um trabalho que dá em nada e fica-se a ver navios em close. É dose.

“Mamãe pornô”, tá estampado num pôster homérico. Mais tarde descobri ser capa de uma revista. Bom, para mim, com mais de meio século no lombo, me deparar com uma informação dessas é o caso apenas de encolher os ombros. Meu único pensamento, veja bem, não se trata de preocupação, preocupação nesse caso seria uma pretensão, enfim, meu único pensamento restringe-se a uma conjectura: como uma criança de 9 anos lida com esse título. Ponto. Daí narro o ocorrido a um conhecido que exclama: qual o problema? No shopping onde eu trabalho tá cheio de balconista que completa o orçamento de noite, na Augusta... Cada um entende como pode, pensei, dando o assunto como encerrado.

Sandra Bullock cobra 25 milhões (dólar) para fazer um filme. Ela co-estrela uma produção chamada “Tão forte e tão perto”. Longe de me atrever a qualquer comentário, exceto o de que é muito bem fotografado, há um momento em que eles abordam o paradoxismo (quando duas palavras se contradizem): pense em nada, agora depois, seriamente engraçado, silêncio ensurdecedor, cópias originais, claramente confuso, morto vivo, etc.

Encerro com mais um, bocejando: início do fim.



(Imagem: As estátuas de dinossauros Sinclair transportadas pela barca pelo rio Hudson para o local da feira mundial de Nova Iorque de 1964, foto de Bill Cotter)







 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 12/07/2012
Reeditado em 04/06/2020
Código do texto: T3774345
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