Ah, que inveja!

Existe um tipo de pessoa que, confesso, me causa inveja. Não estou me referindo a condição social. Tampouco a posição intelectual. Ainda menos ao poder aquisitivo. É uma qualidade que transpõe castas e culturas.

Eu tento. Juro que tento, mas não consigo. Desejo, cobiço, admiro e, sim, invejo, mas nada muda em mim.

De que tipo de pessoa estou falando? Das simpáticas, ora.

Elas chegam perto de quem quer que seja e conseguem desenvolver uma conversa sadia, construtiva e admirável. Que raiva! Eu não consigo sair dos diálogos típicos e superficiais. E o tempo, será que chove? E o Grêmio, será que ganha algo este ano?

É bom constatar que me refiro a pessoas simpáticas e não a vaidosas. Falar alto, rir com todos e chamar atenção são coisas de palhaços. Uma máscara para disfarçar o receio da reprovação.

Conhecer alguém e instantes depois conseguir um elo inexplicável de intimidade, isso sim, são características de um autêntico simpático.

As pessoas confundem aparências e colocam todos na mesma sacola. Se dissecarmos detalhadamente o comportamento humano reconheceríamos que não somos realmente simpáticos. Pelo contrário. Somos seletivos e altivos.

Eu sou assim.

Posso dar dois bons exemplos.

Quando fui morar no Centro e conheci os vizinhos novos não tive problemas para me aproximar e fazer aquela política de boa vizinhança. No dia da mudança já estava conversando sobre variados assuntos com a senhora do lado como se a conhecesse a tempos. Depois foi a vez de um jovem que morava no fim do corredor. Bastaram alguns minutos para adquirirmos afinidade para discutirmos sobre os prós e contras de morar próximo a cidade baixa.

Fui simpático, certo? Um exemplo de bom vizinho.

Como a água se transforma em vinho, assim mudei completamente quando conheci o escritor e jornalista David Coimbra. Já havia marcado de me encontrar com ele, trocada vários e-mails, mas quando o encontrei pessoalmente me retraí. Não faz sentido, eu sei. Mas foi minha reação. A conversa seguiu truncada. Parecia grenal de final de campeonato gaúcho. Estava cheio de perguntas, sabia o que fazer, mas não consegui agir com naturalidade. Semelhante ao Neymar diante do Messi na final do mundial interclubes de 2011. Intimidei-me diante de alguém famoso, mesmo sendo tratado de igual para igual por ele.

A diferença de um momento para outro se deu apenas por um motivo: meu orgulho.

Com meus vizinhos não havia nada a perder. O meu subconsciente dizia que eu era mais que eles. Por isso a facilidade em me comunicar. Com o David foi o contrário. Senti-me menor que ele. Por isso a dificuldade em me expressar.

A maioria das pessoas é assim: simpáticos circunstanciais.

Simpáticos de verdade sempre são simpáticos. Não importa o lugar, o dia, o que o cerca ou com quem ele está conversando.

Simpáticos de verdade não fazem diferença de uma pessoa para outra. Não se acham melhores ou piores do que ninguém.

Simpáticos de verdade não gostam de ser o centro das relações. Eles preferem fazer com que os outros recebam a atenção devida. Por isso eles gostam de conversar: para valorizar.

Simpáticos de verdade são pessoas humildes.

Simpáticos de verdade são pessoas melhores.

Por isso eu volto a admitir: morro de inveja de pessoas simpáticas.

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 12/07/2012
Reeditado em 12/07/2012
Código do texto: T3774260
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