SUICÍDIO.
Contrariando a única liberdade que não podemos exercer, posto que a morte é a única certeza que tem o homem, contra a qual nada pode em termos de arbítrio próprio, Stepan Zweig se despedindo da vida pelo extremo gesto, diz que “quanto mais voluntária é a morte, tanto mais bonita ela é. A vida depende dos outros, a morte da própria vontade”.
Elabora assim um método por todos rejeitado, pois toda a literatura rejeita a morte como fator de beleza ou estética, e poucos ou quase nenhum apontam nela voluntariedade.
Zweig como livre surrealista do pensamento, bondoso ao extremo, capaz de viver ao seu tempo o que era difícil como hoje, “os males da humanidade”, sentindo-os, se despede da vida ao lado de sua jovem mulher que com ele partiu, deixando grafado que “ meus amigos vivam para contemplar a aurora ao final desta longa noite. Muito impaciente, vou antes.”
Zweig era um intelectual austríaco, sem vaidades, inteligente que era. Seus escritos em lingua alemã foram os mais lidos em todo mundo em seu tempo. Foi um paladino em buscar abrigo para os judeus perseguidos pelo nazismo na Europa. Procurou refúgio para esses sofredores no Brasil escrevendo o ensaio “Brasil, País do Futuro”; não estava errado.
Foi considerado um dos maiores propangandistas da psicanálise e seu discurso no túmulo de Freud, em Londres, em 1939, se fez famoso.
O desfecho de sua vida ocorreu por seu amor à humanidade e aos seus próximos.
Brutalmente injusta a história, dela se despede, fazendo questão de deixar seu marco de irresignação com a sinalização da humanidade no sentido de que nada vale mais do que o poder pelo poder e a dominação por desejos de objetivos desprezíveis onde os homens seriam distinguidos por raça e não por serem pessoas iguais na ordem natural de ancestralidade. E tal fato continua a se repetir, com maior ou menor intensidade.
Muitos se suicidam lentamente na patologia freudiana labiríntica e espremida entre a vontade de ser e a irrealização, e se esquecem da humanidade que espera ação dos homens de boa vontade, pois só pensam em si, e por isso pagam.
O esquecimento do convívio e de todos em prol do egoísmo, a deserdação do amor aos próximos mais próximos, familiares principalmente, que de nós dependem, são o rastro da negativa de ser gente, essas gentes que passeiam pelos círculos de Dante Alighieri em seu " Inferno". Zweig nesse sentido foi paradoxal, morreu frustrado por não poder mais assistir a crueldade de negar auxílio ao mais próximos.