4ª Parte: Com os olhos arregalados ela gritava... !!! Ela está lá!!

Ao reviver está história, trouxe mais uma vez junto de mim, pessoas que com suas personalidades fragilizadas, experimentaram reviver, um reencontro, tenebroso, mas que era preciso. Pois deixaram de viver o presente para reviver um passado. Que impiedoso, mas que necessário. E quantas vezes já ouvimos alguém dizer que, o paradoxo dos paradoxos é um mistério insondável da existência. Pois embora as raízes possam estar mortas, em meio às trevas, poderemos encontrar uma pequena réstia de luz. Pois acredito, porém que um testemunho pode inspirar pessoas a vencer, um momento de terror sobre uma visão de ótica, definir o que é inaceitável. Por que não há, contudo, tempestade sem fim, por mais forte, devastadora e tenebrosa que seja. Se vamos supera-las, depende de nossa insistência, e se vamos vencê-las, vai depender da certeza, que de fato, aquela visão foi uma imaginação. E por mais intensas que sejam as adversidades, é preciso enfrenta-las.

E assim nesta minha exposição de sentimentos, acrescento o que veio em minha memória, sobre estes momentos que agora amadurecidos, são fatos de que ainda sinistros, mas, que se tornou “engraçado”. E por mais que eu tivesse uma amorosidade por “ela” não teve como deixar de rir, depois de levar algumas broncas, pelo descontrole de minha irmã. E assim esta história se deu inicio a partir do dia em que papai começou a fazer uma caixa de madeira. E quando os seus netos perguntavam sobre a caixa, a resposta vinha... É segredo! Vocês não podem saber. E assim ele continuava. Fazia esta caixa com amor e com carinho. Quem via tinha a impressão que estava fazendo algo, como se fosse um berço para um filho querido. A madeira, uma das mais resistentes, o verniz, um dos melhores. Esta caixa tinha uma medida que ia de 1,20 de comprimento, a 60 cm de altura. E mais ou menos 70 cm de largura. E desta forma, ele ia conseguindo a seu objetivo. Estava tomado por um desejo intenso onde só existia o que ele mais desejava. Recuperar a todo custo, o que a vida um dia havia lhe tirado, em uma triste madrugada, onde derrotado pelas circunstâncias, trazia em seu coração uma emoção de fragmentos de profunda tristeza, porém não havia mais dúvidas, era exatamente o que eu pensava. Um mini caixão, pronto para receber algo ou, os de restos mortais de alguém.

E, eu ali, naquele pedaço de chão, juntos dos meus filhos, ouvia da boca de papai. Palavras dolorosas, de um profundo sentimento. E assim ele disse: “O meu sonho eu construí ao lado de sua mãe e de quase todos os meus filhos, vi todos eles crescerem, felizes ao meu lado. E assim entreguei o meu amor e afeto, mas num triste repicar de sinos, o destino fez com que a morte levasse um deles.” E assim dizendo, e num gesto de carinho, fechou a caixa, no silêncio de sua dor. E foi quando, ele segurou a minha mão, e de joelhos começou a desabafar. E como num sussurro disse: “Um dia ela partiu, Deus por um tempo tirou- a dos meus braços, ela era uma menina especial. Mas hoje Deus teve piedade, e traz, ela de volta. Então esta caixa, é para que ela repouse.” E dizendo isto se calou por instantes. Nesta hora a minha mente por um momento ecoou em meus pensamentos, sem dizer uma só palavra. E as recordações vieram, naquela madrugada fria de junho, a gritaria, o choro de minha mamãe como um filme, tudo ia recordando, como se fosse um pesadelo, que se misturava a uma dor lançante, de ver ali o meu pai, chorando baixinho. E assim, a qualquer recordação mínima que fosse dela, iria trazer tristeza. Pois lembrava dos gestos de carinho que compartilhamos juntos, a necessidade de oferecer conforto a mim, de ser eu, a sua irmã caçula, dos seus mimos para comigo. Velava pelo o meu sono. Mas ela era tão frágil, como uma rosa, que murcha, quando se expõe ao sol. E desta dor desta tragédia, naquele momento eu lembrava. Mas por um instante a minha mente foi interrompida se misturando como um som de motor de carro, e triste olhei para o meu papai e o ajudei levantar. E foi, quando ele falou: “ A sua irmã veio me buscar, vai comigo até o cemitério, buscar os restos mortais de sua irmã Silvia.” E se eu tivesse ainda uma mínima dúvida, sobre este laço de afeto dele, por está minha irmã, eu estária pecando, pois ele tinha deixado bem claro, iria traze-la de volta, pelo menos, por um momento. E era, como ela viesse nos visitar, pela primeira vez, após longos anos. E assim me recompondo da quantidade daqueles momentos especiais, pensei: “ Nossa ! É como ela tivesse acompanhado todos os nossos passos.” E é como se não houvesse segredo nem barreira, ela vai estar aqui, papai vai trazê-la por alguns estantes , como se ela fizesse ainda parte de nós em vida, e nós a ela. Embora o tempo ter passado, ela continuava para mim, um ser especial.

E de fato, depois de longas horas, “eles” chegaram. Dei um suspiro, e fui até o portão. E através de palavras simples, mas ao mesmo tempo tão profundas, tive uma prova viva do amor de Deus.

Ele me dava como presente, daquelas imagens que eu guardava quando criança, quando eu tinha 5 anos. Ali estava a caixa, toda torneada, e com o seu brilho, que reluzia do belo verniz, que com capricho, papai havia pintado. E assim sem medo, como uma criança que acaricia um presente, sem temer, sussurrei baixinho: “Lembra minha irmã, quando você me prometeu que estaria sempre ao meu lado? E me ajudaria para nunca me ver triste.... Sabe minha irmãzinha, como você tem me ajudado! No desespero, encontro o seu consolo. As vezes na falta de esperança, encontro sua fé que me conduz, através de intuições espirituais. Um dia a minha alma ficou aflita! Senti a sua falta, e muitas vezes sentada em minha cama, chorava em silêncio, mas sempre atenta, fixava um ponto de luz, na esperança que eu pudesse te ver.” E foi quando papai disse para as minhas irmãs: “Vamos, temos hora marcada, temos que ir levar os restos destas memórias que veio nos visitar.” E conforme ele falou, seguiram para a nova morada de minha irmã, ao lado de mamãe, que já estava lá a sua espera, dormindo o sono de Deus.. E assim de repente ela foi embora, tudo virou pó. Mas será que seria a ultima vez? Por que será, que, quando não a mais caminho, o ponto da jornada, se acaba? E quantas indagações, onde não há como ir adiante, nem como voltar atrás.

E naquele momento senti que por mais forças que fosse capaz de arrebatar, dentro de mim, algo se perdera, que não havia mais nenhuma possibilidade de estarmos juntos novamente. E assim de uma forma tranquila, recebi uma pessoa para os serviços de casa. E conforme o combinado, ela iria dar um trato em minhas unhas. Decidimos então se acomodar em um quartinho, próximo ao banheiro. E ali ficamos conversando enquanto ela fazia o seu trabalho de manicure. E foi quando uma das minhas irmãs chegou junto com papai, e como o assunto era a favor, de tudo o que havia acontecido no percorrer do dia. As histórias mais tenebrosas foram vindo à tona, eu contava uma, está pessoa contava outra, e assim iamos. Mas eu não percebi que a minha irmã estava ficando com medo. Sabia que ela era medrosa, ainda mais de estar quase o dia todo, acompanhando todo o percurso do trajeto, dos restos mortais, da minha irmã Silvia. Porque a ideia da morte, para alguns é como enfrentar um mistério, que os levam ao terror, o medo, pavor e desespero. E resistindo a esta tortura, ela teimava em ficar ali escutando, a nossa conversa, e com o meu pai, que de um lado e do outro, passava. Mas reunindo um pouco de animo e de quem quer fugir daquele assunto. Ela conseguiu se levantar e disse, vou tomar banho, como querendo dizer, chega desta conversa, estou fora, não quero me encucar com isto. E durante algum tempo, ela ficou dentro do banheiro tomando o seu banho, e agente ali do outro lado conversando.

Mas de repente nossa conversa foi interrompida pelos gritos da minha irmã, que aos berros, abriu a porta do banheiro, e do jeito que estava no banho, veio como uma histérica, amedrontada, gritando. E apontado para o banheiro, no sentido do espelho com os olhos arregalados disse: “Ela esta lá, eu vi, eu vi!. Uma mulher me olhando entre a fumaça do chuveiro. Eu vi!..” Ela dizia. Repetia várias vezes. E indignada com o que agente ouvia, nós dizíamos: “aonde, aonde?” “Ali, ali!.” E ninguém via nada. E por mais receio que a gente tivesse, a curiosidade era total. E foi quando o meu pai disse bravo!. “Vocês ficam dizendo estas barbaridades sobre assombrações, sabem que a sua irmã é medrosa. E tem mais! Escolheram um momento errado para esta conversa.” E ai nesta hora... Houve um tempo de silêncio... Ela parou de gritar, e a imagem que via, já não estava mais lá. E como uma peça de teatro, que de trágico, se torna uma comédia, começamos a rir sem parar, mesmo com as broncas de papai. E tudo foi colocado de lado, sem ser definido, o que era. relamente... E se o fato era mesmo aquilo que ela viu, não devíamos correr amedrontados. Pois eu cheguei a conclusão; Que foi gratidão, ou uma despedida, como se alguem necessita de nossa atenção. Quis escrever esta história para viver fazer valer a pena. E também, para repençar cada momento. E se não for assim, somos escravos do que queremos.

“Não sei.... Se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas muitas vezes.”

(Cora Coralina)

Desculpe-me por falar aqui desses fatos tão impressionantes, mas quero salientar, que devemos considerar as pessoas, que um dia passaram por nós. Não podemos ignora-las jamais. Por muitas vezes, são criadas situações, que irão marcar, por eternidade as nossas vidas.

E por isso, eu acho que ; A separação, é simplesmente inadmissível. Mas todos nós, desejamos viver eternamente, com quem amamos...

Neire Lú

06/07/2012

1ª Parte: "A despedida"... Elas estava indo embora.

2ª Parte: "Onde Estiver"... Ela estara bem.

Neire Lú
Enviado por Neire Lú em 11/07/2012
Código do texto: T3773023
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