Você é a Doença, Eu Sou a Cura.

A culpa é minha. Desculpe-me, não foi minha intenção. Juro mesmo. Só queria ajudar. Não imaginei que as coisas fossem tomar estas proporções. Quando vi tinha acontecido. Você estava chorando, parecia estar com frio e até um pouco abalado. Ao me aproximar pretendia fazer você ver o lado bom, não imaginei que estragaria as coisas mais ainda. Como eu já disse, a culpa é minha. Só minha.

As vezes que você chora pela falta de recursos financeiros a culpa é minha. Tenho feito você gastar onde não deve. Coisas superficiais tem estado presente na sua lista de prioridades e sou eu que convenci você a colocá-las. Restaurantes caros, adereços pretensiosos, roupas em demasia e investimentos errados. Sou eu que pressiono você para se comparar com os outros e nunca se dar como satisfeito. Sou eu que digo que você precisa correr e gastar, que comprar é a melhor forma de superar as crises emocionais.

As crises emocionais. Eu também me responsabilizo por elas. As brigas e discussões com sua namorada foram eu que armei. Ela estar triste por você ter procurado sua ex e ter passado a impressão que não está feliz ao lado dela é culpa minha. Afinal, fui que disse a você para fazer isso. Fui eu quem levou você até o apartamento dela aquela noite. Fui eu.

Você ter se afastado de sua família também é minha culpa. Seu pai não falar com você por julgá-lo responsável pelas doenças de sua mãe (na cabeça dele, as coisas que você fez quando jovem a deixaram doente), seus irmãos serem apenas conhecidos e os demais familiares não passarem de sombras são todos minha responsabilidade. Quando você está angustiado lembrando do passado e as decisões erradas que construíram este tenebroso presente a culpa também é minha.

Lembra-se de um filme do Sylvester Stallone no inicio da carreira, Stallone Cobra? Ele dizia uma frase que ficou marcada no imaginário coletivo até hoje: "Você é a doença. Eu sou a cura." É verdade. Eu sou a doença que aflige as relações que abrangem sua existência, você bravamente tenta resistir às minhas investidas como a cura para as aflições que trago. Eu sou o vilão e você é o mocinho. Eu sou o criminoso e você é a vítima.

Você é você.

Eu?

Sou tudo que está a seu redor. Todos que lhe cercam. A sociedade que você está inserido. Aquele que você culpa pelos seus erros.

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 11/07/2012
Reeditado em 11/07/2012
Código do texto: T3772235
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.