Ao mesmo tempo sendo todos e sendo um só.

Ela saiu da livraria. Ela estava na parte que toma café, naquelas mesinhas que você fica pensando se vale a pena comprar o livro pra empoeirar. Sempre vale, sempre vale. Ele entrou bem quando ela saiu. Ele queria comprar cd’s, ou só ouvir. Parecia que a banda sabia o que queria dizer, ele sempre pensava isso. Mas só parecia. Por trás do carpete tem a chave de casa, mentira. Mentira, mentira que é a chave da porta de serviço. Você achava que era a porta de casa. Era isso que ele pensava de quase tudo e o que não era isso escapava do seu entendimento mundano. Ela acabou de descer do ônibus, ele entrou agora porque estava esperando há horas algum movimento e nada. Não era esse ônibus que ele devia pegar, só que nesse estado qualquer um serve. Tudo bem, tudo bem. Ela queria atravessar a rua quando o sinal estava aberto pros carros. Foi e entrou em baque com o mesmo ônibus que saiu. Ele viu o atropelamento e sentiu um aperto no coração. Depois não sentiu mais nada. Quando ele realmente abriu os olhos, era ele que estava estirado no chão. E tinha essa coisa de se sentir como duas pessoas opostas. Ele era a pessoa que jogava o prato de comida fora e também devorava tudo sempre. Tinha nojo por andar rápido, mas adorava correr. Escapava das conversas e fazia brotar conversas na sua mente. Ele era ela. Ela era ele. Ele era todos nós, todos nós se partindo em mil vidas e voltando pra nossa. Respirando mais do que o ar, engolindo mais do que a saliva. Ao mesmo tempo só respirando ar e só engolindo a saliva. Ao mesmo tempo sendo todos e sendo um só.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 10/07/2012
Código do texto: T3770493
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