A MINHA CRÔNICA DO DIA - PORTAS ABERTAS -.

A MINHA CRÔNICA DO DIA - PORTAS ABERTAS -.

Certa vez um velho amigo que muito estimo, resolveu “mudar de ares”, estava ficando ansiado com da vida cotidiana que levava. Queria novos desafios.

O velho amigo, tinha uma qualidade impar. Fazer amigos e cultivar amizades. Não só esta qualidade, mas também a voltada para os interesses sociais e comunitários. Vivia inventando motivo para uma campanha do agasalho, do feijão com arroz. Um dia resolveu ajudar os presos da cadeia da cidade. De forma indireta é lógico. Conseguiu com o proprietário de um frigorífico que abatia bovinos que fornecesse para as famílias dos presos, algumas peças de fígado, bucho, rabada, patas (para mocotó), língua, coração e até a cabeça dos bovinos, de onde se retiravam toda a musculatura.Com isso melhora a comido dos presos e de seus familiares.

Nosso velho amigo, quando podia visitava os médicos da cidade, para conseguir amostras grátis, que eram entregues nos ambulatórios médicos do asilo de velhinhos e velhinhas.

Da mesma forma como conseguia com facilidade alguns favores, também o fazia para com as crianças em idade escolar. Agasalhos, uniformes, tênis, livros, cadernos, lápis, borracha, lancheiras. Mas de que adiantam lancheiras se não havia o que ou com o que recheá-las? Uma idéia. A cada lancheira conseguida, colava o nome do supermercado, que em troca fornecia o lanche para as crianças. A forma era simples. Após o término das aulas, as lancheiras eram levadas ao supermercado, que colocava bananas, maçãs, porções de biscoitos ou um pão com manteiga e mortadela. Trabalho que gostava de fazer quando lhe sobrava tempo. Ficavam armazenadas na câmara fria e no dia seguinte eram entregues na entrada da escola, para os alunos que não tinham posses para comprar a merenda.

Um dia resolveu montar uma cozinha na escola. Pedreiros, azulejistas, eletricistas, encanadores, pintores, carpinteiros e a cozinha estava pronta. Mas como conseguir duas coisas básicas: material de cozinha e alimentos? Um convênio com a prefeitura e proprietários de terrenos sem habitação, eram cultivados alimentos para a cozinha. Cidade pequena, ninguém roubava ou fazia alguma daniesa. Mão de obra? A família dos alunos.

Assim era o nosso amigo. Abrindo portas para todos.

Nunca pensava em si. A preocupação era uma só. Tinha duas mãos, duas pernas e dois pés e uma cabeça para pensar. E assim o fazia. A cabeça pensava e o resto do corpo obedecia.

Um dia resolveu ir embora em busca de novos ares. Novos desafios. E se foi.

Passaram alguns anos e o nosso amigo, continuou com a sua missão. Buscava sempre um novo desafio em prol dos menos favorecidos.

Os anos passaram. Os cabelos grisalhos lhe davam um ar de envelhecimento precoce. A mente sempre em atividade. Da última vez que o vi estava lutando contra uma doença, que em geral apresentava um índice de mortalidade acima de 90%.

Voltou para a cidade que antes deixara.

Procurou velhos amigos médicos. Tratamento caro e prolongado. Não tinha nenhum tipo previdência e tão pouco convênio médico.

Não lhe cobraram nenhum centavo de real, em relação ao tratamento e medicamentos.

Velhos alunos, amigos, famílias dos presos, presos já apenados, filhos dos seus alunos, faziam verdadeira romaria para lhe visitar.

A cura que antes era de 10% e com um prognóstico de tempo prolongado.Ficou reduzida a não mais que 30% em termos de tempo e 100% em termos de cura.

A missão agora do nosso velho amigo, era mais do que um desafio. Enfrentar uma nova oportunidade que a vida lhe dera.

Agradecido pelo carinho dos médicos, iniciou uma campanha para construir uma nova enfermaria para pessoas carentes. Inaugurou-a em grande estilo.

Uma nova creche, um novo ambulatório, uma igreja comunitária.

Todos o recebiam com carinho e admiração. Vencera a doença, vencera a morte. Estava agora desafiando mais uma vez a vida, para dar vida aos que necessitavam. Vida relacionada com o amor e carinho. Vida relacionada com a amizade e admiração.

Quando voltou, não necessitou abrir novas portas e nem abrir as velhas. Já se encontravam abertas e as novas se abriram com facilidade.

Um dia sentado em um banco da praça, onde gostava de ficar olhando os passarinhos se preparem para dormir, o encontraram dormindo.

Em suas mãos uma cópia do Sermão da Montanha, cópia escrita de próprio punho:

“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

“Bem aventurados os mansos, porque possuirão a terra”.

“Bem aventurados os que choram, porque serão consolados”.

“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.

“Bem aventurados os que misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.

“Bem aventurados os puros de coração, porque verão o Deus”.

“Bem aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”.

“Bem aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, porque deles é o reino dos céus.”.

O nosso amigo dormira o sono eterno. Por certo as portas da moradia eterna, junto a DEUS encontravam-se todas abertas. Com muita saudade de você, lhe dedico estas simples palavras.

Romão Miranda Vidal.

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 10/02/2007
Código do texto: T376972