120 anos de Copacabana, a princesinha do Brasil



 
            Desde pequeno que ouço pessoas que costumam viajar  pelo mundo inteiro afirmarem que não existe ou nunca viram  cidade mais bonita que o Rio de Janeiro.  Eu mesmo, que já viajei um pouco, jamais vi uma beleza natural  tão estonteante para a visão do que o meu amado Rio.  E agora que estou fora da cidade, lamento não ter olhado mais as suas belezas. É que vendo essas  lindezas todos os dias, a gente se acostuma e passa a não dar o valor que elas merecem.  Bem,  me resta voltar a falar do Rio, desta vez, especificamente do bairro de Copacabana, que começa na Avenida Princesa Isabel e vai até o Forte  de Copacabana, no  Posto 06, onde inicia  a rua Francisco Otaviano, rua que nos leva diretamente para Ipanema, de Vinícius de Moraes.
            Fiz o científico, ou melhor,  o Clássico, no Colégio Mello e Souza, que ficava na rua Xavier da Silveira, mais ou menos no Posto 05 . Só pra dar inveja aos amigos, relembro que a sala onde estudava, com cerca de 50 alunos, era conhecida  como o Paraíso, pois era constituída de 35 moças para 15 rapazes.  Portanto, meus amigos e amigas,  já morei no Paraíso. E o Éden ficava em  Copacabana.
            Para homenagear este bairro mais charmoso do mundo posso falar dele  como a Copacabana onde estudei e onde tomei meus melhores banhos de mar. E de onde também sonhei muito, tudo isso na época de ouro do bairro. Conhecia todas as ruas de Copacabana, de ponta a ponta. Tanto pela  entrada do Túnel Novo até a chegada de Ipanema, como pelo  Túnel Velho, passando pelo famoso bairro Peixoto, um bairro bucólico, encravado em Copacabana. O bairro Peixoto, que na verdade não é um bairro, mas um cantinho de Copacabana, é tão escondidinho, que os jovens da época faziam questão de alugar um apartamento naquele solitário local, para servir de lazer, com eventuais encontros com as namoradas de então.  
            Copacabana, assim como toda a zona sul da cidade, com a deslumbrante entrada da baía da Guanabara, mostrando de cara  o famoso Pão de Açucar e o Corcovado, que fica logo ali no bairro de Santa Tereza, bem perto do centro da cidade, parece mais uma tela pintada, no mínimo,  por um Leonardo da Vinci, ou um Portinari.
            Nas artérias principais do bairro, Avenida Atlântica, Nossa Senhora de Copacabana e Barata Ribeiro, desfilaram meus maiores sonhos de jovem, como também alguns pesadelos passageiros. Adolescente, sonhava com as vedetes do teatro rebolado da Praça Tiradentes. Certa vez, um colega de colégio me confidenciou que uma famosa vedete, que morava naturalmente em Copacabana, aceitava receber um jovem em seu luxuoso apartamento, desde que recebesse um mimo de dois mil reais, com direito a tomar um chá com torradas Petrópolis, ou bolachas cream crackers.
            Alguns colegas costumavam frequentar o Jockey Club e eu, angustiado em juntar os dois mil reais, na época, cruzeiros, comecei a jogar no Jockey, sem nunca ter conseguido essa quantia. Interessante como o jovem não pensa.  O que mais me estimulava era essa delicadeza da vedete em oferecer esse chá com torradas. Achava o máximo isso. Depois de tantos anos, acho que esse colega brincou comigo, essa estória devia ser inventada e jamais esse encontro fantástico aconteceria.
            Vivi um momento raro e que talvez não aconteça mais na vida do Rio de Janeiro. Uma cidade com menos de dois milhões de habitantes, no tempo do bonde, um povo realmente feliz e a cada dia que amanhecia, o povo alegre tinha uma piada pra contar. Ríamos de nós  mesmos e da própria cidade, sempre generosa e de braços abertos para nós.  Tudo acontecia em Copacabana, a princesinha do mar. Grandes músicos cantando em Copacabana, como Dorival Caymi, Dolores Duran, Dick Farney, Carlos Galhardo, Gilberto Alves, Francisco Alves, e tantos, tantos outros.  Existiam também grandes cronistas que falavam muito da vida boêmia e das boates  de Copacabana, denominadas de “inferninhos”. Recordo-me do maior deles, o grande Antonio Maria.    Não só isso, mas Copacabana serviu de berço para a bossa nova, com João Gilberto, Bôscoli, Menescal, Nara Leão e outros. Era muita coisa boa acontecendo ao mesmo tempo.
            Os melhores cinemas estavam em Copacabana, o Metro-Copacabana, o Roxi, Rian, o Palace. Restaurantes, lanchonetes e a famosa Colombo, com seus salgados famosos e o tradicional chá das cinco.  Estou vendo que o chá era importante naquela época. Os colégios, os institutos de línguas estrangeiras. Na rua Duvivier, estudei francês na Alliance Française e as professoras eram todas francesas. Bem jovens, na faixa dos vinte anos, todas de cabelinho curtinho. No meu segundo ano de francês, fui reprovado inexplicavelmente, o que provocou uma reação das francesinhas a meu favor e a Direção da Aliança foi obrigada a  me passar de  ano. Antes que me perguntem o porquê dessa reação, diria que por essas fatalidades da vida, virei o “enfant gâté”  das professorinhas... Talvez, esse jeito carioca que assimilei com muita facilidade.  E eu, que comecei a ser carioca aos cinco anos de idade, aprendendo aquele jeito maneiro do Rio, me deliciava com as maravilhas da cidade. O turfe, na Gávea. O Jardim Botânico, a Lagoa Rodrigo de Freitas, as praias, do Leme ao Leblon e o colosso do maior estádio do mundo de futebol, o Maracanã, o Maraca! Não tive uma nega chamada Tereza, mas já era, claro, Flamengo. Mas tudo isso não superava Copacabana, lugar onde todo mundo queria morar. Bares e restaurantes famosos já existiam, como o La Fiorentina, o Bar Xerez e o Bar Lucas,   onde meu pai frequentava aos sábados à noite, para tomar um  chope alemão dos melhores, além dos chucrutes e outras iguarias da comida alemã.
            Sei que é difícil mostrar esse clima realmente ameno e gostoso daquela Copacabana de então, para os mais jovens. Clima que nem minhas filhas pegaram e não sabem o que perderam.  Mas os mais antigos e a turma da minha geração, com certeza, vibrarão com estas lembranças. Com esta crônica um tanto pessoal, penso que paguei uma dívida com Copacabana, que me ofereceu meus momentos de maior felicidade na vida    E o Rio de Janeiro e Copacabana  continuam lindos.  Felizmente!!!