<> O MENINO DA FÉ FERIDA <>

Aos sete anos eu tinha a FÉ INABALÁVEL do cristão mais devoto. Tudo na Igreja me fascinava. A procissão, o flagelo, o calvário, o Jesus crucificado, tudo em mim tinha o realismo e a dor de um crime PRESENTE. Em maio, na "coroação" de N.Sra. ,um altar cheio de anjos alados. A água benta que eu já alcançava na ponta dos pés, o ritual da missa, o gestual do Padre, pra mim, tão puro e sacro . Eu era menino de atravessar a rua pra beijar a mão do Padre. O sonho dos meus avós era que eu fosse um COROINHA, ou até no futuro, quem sabe, um Padre.

Mais devoto e dedicado que eu, somente o meu amigo Dudu, que era o coroinha oficial da Igreja de Sto. Afonso.

E justiça se lhe faça: Dudú era muito competente, e parecia um príncipe, quando paramentado de coroinha, no esplendor de seus 11 anos. Um dia correu a notícia que a família de Dudu estava de mudança para Brasilia, para onde seu o Pai seria promovido para um cargo importante no governo, em Brasilia.

O Padre então comunicou à minha família que eu seria o novo coroinha.

Minha vó quase teve um treco. Fez promessas e penitências.

Nesta época os coroinhas vestiam quase como um "mini padre".

Num domingo de missa, lá fui, orgulhoso, até a Casa Paroquial experimentar meu sonhado "paramento litúrgico".

Vi a porta entreaberta e adentrei. Já na sala, e para não acordar o Padre, olhei Pelo buraco da fechadura que dava para o quarto. Aí me deparei com uma cena bizarra:

O "Dudú", com um shortinho de cetim, deitado de conchinha e envolto nos braços do "Santo" Padre. No chão uma sandalhinha de pom-pom. Fugi dali como o diabo da cruz. E como um pssesso saí derrubando mesas e cadeiras numa fuga alucinante, até alcançar a rua.

E assim passou o tempo..

Hoje está fazendo 50 anos que aquele menino da FÉ INABALÁVEL, nunca mais foi à missa ou beijou a mão de Padre.

"Escapei por pouco... juro"!