O amigo do sapo
Nunca ela acreditava nele; podia ser criativo, dono de uma imaginação fértil, mas não era mentiroso. Cada vez mais o estigma se acentuava como característica, tudo parecia um complô da natureza.
Visitavam uma lagoa, falavam amenidades, combinavam pescarias, isto mais para ter o que falar, afinal ela nunca gostou de pescarias; um agravante, pescador tinha fama de ser mentiroso; alcunha que ele já carregava, sem que tivessem pescado juntos.
Um sobressalto, um sapo a pouco metros de distância dos dois, nada de tão anormal, era mais um sapo na lagoa, mas...
- Eu conheço aquele sapo.
- E eu conheço você, ela respondeu.
- Não, aquele é o Green.
- Todos os sapos são Green. Esta resposta o torturou, nada mais absurdo que generalizar o Green, ele era único.
- Eu, quando venho a esta lagoa, me sento à frente dele, que num salto alcança o meu olhar, fixa-me nos olhos e me conta um segredo; sim, ele fala comigo olhando-me nos olhos.
Ela não era o Green, ou não se portava como ele, desviou o olhar para rir do bizarro que ouvia.
- Ele, o Sapo Falante, já lhe disse que se transformou uma vez em um Príncipe, ao ser beijado por uma princesa?
- Não, ele me disse que nunca um sapo daquela lagoa fora castigado daquela forma; afinal nenhum sapo gostaria de perder uma lagoa para ganhar uma coroa, o que fazer com uma? Na lagoa todos os sapos são reis.
- Você, mentiroso, está querendo me dizer que um sapo lhe contou que se transformar em um príncipe seria para ele um castigo?
- Não com as suas palavras, mas o Green me teria dito que-“Se vocês humanos recusam humanos que tenham outra cor que não seja a sua; eu sapo só quero amar a “sapa”, não me beije princesa”.
Tentaram voltar a atenção ao batráquio, que já não estava ali e num coaxar melancólico lamentava-se:
- Todos os humanos são iguais; agora que tem uma nova amiga, nem me deu uma atenção...