40 dias

Se tem alguém que admiro, este alguém é Jesus. O Cristo. O nazareno filho de carpinteiro. Para muitos ele é o Deus tornado homem. Não quero entrar nesta discussão. É uma questão de fé e diz respeito apenas a cada um. Esquecendo este ponto irrelevante se ele é ou não a personificação da divindade e atentando-me as suas atitudes preciso declarar: ele é o cara!

Por quê? você deve estar se indagando. Após formular esta pergunta logo as respostas virão instantaneamente sem eu precisar responder. Porque ele transformou água em vinho, curou enfermos, ressuscitou mortos, fez com que depressivos tivessem novamente prazer em viver, aplicou discursos fabulosos e desconcertantes repletos de sabedoria e ironia fazendo com que os bambambãs do templo ficassem calados ante sua oratória? É isso?

Veja bem, não era bem nisso que estava pensando, mas por isso também. Com toda a certeza.

Queria destacar um detalhe que passa despercebido pela maioria das pessoas que leem sua trajetória. Algo que aconteceu antes de ele realizar todos estes grandes feitos. Um milagre que não é considerado um milagre, mas me surpreende mais que um milagre dentro dos conformes.

Depois de ser batizado por João Batista, seu primo, Jesus foi-se embora para o deserto. Despediu-se da família e dos amigos e tirou férias no escaldante deserto israelense.

Preste atenção agora: ele ficou quarenta dias sozinho, só ele e Deus, no calor angustiante de dia e no frio cortante à noite SEM COMER NADA!

Quarenta dias em jejum. Quarenta dias sem colocar nada na boca. Nada. Nadinha.

Uau! Desculpem-me os ateus, mas ele é o cara! Quem aguentaria ficar todo este tempo sem se alimentar? Atualmente, creio eu, que não seja impossível repetir este feito. Com todo o acompanhamento médico e tecnológico é viável realizar tal experiência. Mas imagine desafiar seu corpo a ficar sem alimento em um ambiente tão hostil e sem companhia alguma?

Eu não conseguiria. Não consigo permanecer nem um dia sequer, imagine mais de mês. Sem chance.

O que me leva a crer que o alicerce fundamental para esta empreitada foi a visão que Jesus tinha da coisa. Comer não era tão importante assim. A vida que ele escolheu levar não embasava sua existência em coisas, digamos, naturais. Por isso ficar sem pão ou carne todo este tempo não foi problema.

Por outro lado ele não suportou se afastar de Deus. Como você sabe Jesus, o Filho, e Deus, o Pai, eram um só. O Pai habitava dentro do Filho. Analisando teologicamente isso se dava porque Jesus não tinha pecado - para quem não sabe no cristianismo o que nos separa de Deus é o pecado. Como ele foi enviado a terra para tomar nosso lugar no juízo de Deus se entregando na cruz, quando ele foi pregado no madeiro todo o pecado da humanidade foi lançado sobre ele. Assim, inevitavelmente, o Pai, que não habita onde há pecado, teve que se retirar.

A frase em aramaico "Eli, Eli, lemá sabactani" ou "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" vem disso.

Jesus amava o Pai e não suportava ficar longe dEle. Aguentou quarenta dias sem comida, mas sofreu sua pior dor ficando algumas horas sem seu Pai.

Agora imagine se ele ficasse quarenta dias sem Deus. Não daria certo.

Imagine você ficar quarenta dias distante de quem você mais ama. Cinco semanas sem sua esposa ou namorada. 1/9 do ano sem seus filhos ou pais. Que terrível seria.

Lamentamos e choramingamos por tão pouco. Ai, ai, faz muito tempo que não vou a tal lugar. Ou, faz tanto tempo que não compro algo. Faz tanto tempo que não como tal coisa.

A vida apesar de efêmera tem seu valor. E ele não está nas coisas passageiras e naturais, mas sim no que é eterno e sobrenatural. Existe algo mais divino do que os amores da nossa vida?

Não. Na minha não, ao menos. Definitivamente não.

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 09/07/2012
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T3768639
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