" Eu ainda possuo a minha vó"
Encontrei esse chiste maravilhoso num artigo escrito por um professor de linguística da Unicamp. Sua leitura foi providencial, pois sendo eu um escravo das prisões-de-ventre, aliviei-me rápido daquilo que, normalmente, meu intestino teima em querer guardar. Se demorei-me um pouco mais, foi por obra da miopia num rosto sem óculos naquele momento.
Escrevi essa introdução para evitar eventuais leitores afoitos nas interpretações precipitadas que o título pode suscitar. Aliás, adianto-lhes que não se trata de nenhum desabafo feito por um neto desnaturado que deseja comer - ou continua comendo - a pobre velhinha.
A solução para essa dúvida dependerá apenas da entonação que lhe for dada. Nem mesmo um ponto de exclamação resolveria a pendenga. Só a entonação poderá nos dizer se estamos diante de um tarado contido e, portanto, muito provavelmente, um adepto de Onã; ou um tarado que, rompendo as admoestações freudianas, assumiu, sem remorso algum, o papel do Édipo tebano que, tantos séculos depois, ainda rende um bom lucro para os adeptos do barbudo de Viena.
Como se vê, estamos diante de uma dúvida dígna de um Hamlet insepulto. Se esta vem com a força do futuro do pretérito, a intervenção cirúrgica para a remoção do pênis não esbarraria na castração simbólica de Lacan, além de livrar a pobre vozinha de qualquer risco mais penetrante. Agora, se o vaticínio nos chega com alma de gerúndio, os dividendos seriam mais vistosos. Afinal, o preço de um divã anda pela hora da morte.