Infeliz Aniversário

Não gosto de aniversários. Se eu fosse aplicar minhas sinceras vontades, eu não ligaria para ninguém (telefones servem para mãe, melhores amigos e recados rápidos). Quando dou o ar dá graça, apenas digo parabéns e desligo (fujo dos clichês: "que você seja muito feliz", "muita paz, saúde e amor", "realize todos os seus sonhos"). Até ia em aniversário de criança (quando na mesma idade) pois tinha a tão mágica sacolinha ao fim da festa. O pior é fazer aniversário. Depois dos 18 anos, parei de contar. Não consigo vê sentido em comemorar a diminuição de mais um dia de vida (paradoxo da realidade). E se eu estiver triste bem no dia da festa? precisaria forçar os músculos da face, ser cordial e receber os convidados um por um (não dá!). Faço o ritual de desligar meu celular, viajar para qualquer canto (sumir seria o ideal, como a física proíbe rebeldes da ciência, deixo para o próximo século). Presentes, esses cobiçados objetos por parentes que nunca (ou quase) acertam na escolha. É uma ocorrência universal. Serei educada ao receber, elogiarei e darei um tremendo sorriso para arrebatar qualquer constrangimento. Já ganhei ótimas lembranças, só que, ao invés da maioria, eu não ligo. Quem sabe um abraço não me confortaria mais? Se eu ficaria chateada com a ausência de cumprimentos? Não, mesmo porque já recebi por duas décadas (e mais um pouco) e felicitar alguém definitivamente não prova mais afinidade. A procura existe por diplomacia, respeito e reciprocidade (por isso evito ligar). Detalhe: o Facebook notifica os usuários a data do aniversário. Iam enxurradas de parabenizações ocas e vazias (não aguentava vê semi-conhecidos me parabenizando, tomei a atitude de desativar o face por 24 horas). Vai saber se esse exagero em volta do nascimento vale a pena. Há quem se adapte.