E eu com isso?

Quando paramos de nos perguntar, as respostas virão, uma a uma. (Sunny Lóra)


Tenho o costume de dormir cedo. Já fiz de tudo para deitar mais tarde, mas isso só ocorre quando tenho algum compromisso que não pode ser evitado. Quando isso acontece, passo a noite acordada e meu relógio biológico do sono só vai funcionar normalmente umas duas noites depois.

O que mais gosto no meu quarto é o sol que bate na minha cama. É uma das melhores sensações que tenho experimentado neste inverno, nem tão frio assim. Antes que o amigo brilhante adentre pelas frestas da janela da varandinha, levanto e vou tateando a persiana, ainda de olhos fechados, pra abri-la totalmente e deixar que o amigo Sol faça a sua parte: aquecer meu corpo e meu coração, que anda um estrago só.

Tenho notado que hoje as pessoas fazem questão de se fazer de surdas, cegas e mudas. O tempo, este ingrato amado por muitos e odiado por outros tantos, está nos mostrando como as coisas estão se acomodando na vida de cada um. Até certo ponto, entendo perfeitamente que as nossas dores são apenas nossas e que devemos evitar partilhar que choramos de solidão, rimos de piadas inteligentes e bem elaboradas, fizemos aquele bolo recheado de chocolate,  fotografamos uma teia de aranha espetacular,  tivemos uma dor de barriga que durou um dia inteiro, mentimos, disfarçamos, calamos ou gritamos.

Ah, essa ansiedade difícil de ser domada... Nem água com açúcar, aquela velha receita de nossos nonos, funciona. O jeito é administrar os minutos, com a paciência mais necessária que respirar. Eu costumava pensar, quando fui mãe pela primeira vez aos vinte anos: daqui a dez anos meu filho terá dez anos e eu trinta... E assim por diante.

A cada dez anos que acrescentava no meu pensamento, meu corpo fazia as suas transformações, minha mente amadurecia, eu me tornava mulher guerreira, passava roupas de manhã bem cedinho, cuidava das plantas, do Pipi e da Pipinha, dois pintinhos que meu filho número dois ganhou numa festa. Esquecemos que eles crescem e os danadinhos transformaram-se num galo e uma galinha que faziam a alegria da vizinhança. Quando tivemos que nos mudar para um apartamento, os meus amiguinhos foram para a casa de uma amiga, no mesmo bairro.

Estas viagens ao passado são necessárias e benéficas, porque alimentam nossa alma de momentos bons que vivenciamos. O hoje, tão diferente do ontem, nos projeta para cada um dos lugares mais distantes do que fomos um dia. Não é de todo ruim, absolutamente.

É bom assistir todos os filmes que gostamos, ler os livros que estão ficando empoeirados na estante, não precisar olhar o relógio controlador, rir de brincadeiras da Nina e tentar apartar as brigas constantes das minhas aves Ticuninas (apelido dado pela Marilda), trocar de restaurante todo dia, descobrir novos lugares, rezar – que é bom – chorar de saudade... Ou até mesmo imaginar que a vida será plena novamente. O certo é que alguns amigos ficam e outros vão embora, na mesma velocidade com que entraram. Tenho poucos amigos de carne e osso, mas que valem mais que um exército inteiro.

Sempre existirão aqueles que usam uma expressão que me atinge e machuca: - E eu com isso? É domingo, o sol brilha e vou buscá-lo do lado de fora, porque ele acabou de seguir outros caminhos.
 


Domingo de julho, 2012
Para minha mãe Jo Ann, com muita saudade.

 Imagem Google
 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 08/07/2012
Reeditado em 08/07/2012
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