= Meu amigo Ditinho =
= Meu amigo Ditinho =
Na década de 90, pediram-me para que eu ajudasse um senhor de meia idade, que padecia do mal de alcoolismo. Seu apelido era Ditinho, morava na cidade de Carmo da Mata, mais ou menos 50 km de Divinópolis. Eu o procurei e fizemos uma boa amizade. Ele era um cinqüentão, baixinho, magro, de um sorriso de criança. Andava sempre com os bolsos recheados de balas para agradar a meninada. Era um boa pessoa, mas quando bebia perdia toda a sua razão, apagava pelas ruas, dormindo ao relento. Depois de eu ganhar a sua confiança, consegui convencê-lo a se internar, numa comunidade terapêutica (Casa Nossa Senhora de Fátima), a qual, eu fazia trabalho voluntário. Nós o internamos, me parece que foi no mês de março, meados. As coordenadoras da casa, eram irmãs de caridade, que o acolheu com todo o carinho, com faziam com todos internos. Passaram-se 18 dias. Naquela manhã Irmã Olga ligou-me, dizendo que ele não queria mais ficar ali, o programa de recuperação era de mais ou menos de 9 meses. Fui até lá, conversei, implorei, pedi para que ele ficasse pelo menos mais alguns dias, mas foi em vão. Coloque-o em meu carro e o levei até a sua casa em Carmo da Mata. Voltei para casa bastante frustrado, como eu queria ajudá-lo! Passaram-se 2 anos. Um certo dia, fui convidado a fazer uma palestra numa comunidade no município de Carmo da Mata, em uma comunidade recém construída. Ao término da reunião, vi uma figura conhecida sentadinho la no fundo da sala, era ele, o Ditinho. Me aproximei, coloquei as mãos em suas costas, sem dizer nada. Fiquei a observar o quanto o álcool havia judiado daquele frágil ser humano. Ele de cabeça baixa, perguntou-me: _Você é de Divinópolis; - sim... respondi meio que decepcionado, pensava que ele ficaria contente em ver-me. _ Eu queria encontrar com um amigo de lá, a ele devo muita fineza; _Quem é esta pessoa que o senhor queria encontrar, talvez eu o conheça. _ É um tal de Tonho Tavares, conhece? _ Menino, você não esta conhecendo-me, sou eu mesmo Ditinho. _Ele se levantou, abraçando-me com carinho. Sem olhar-me nos olhos, narrou a sua pequena e triste história. – Depois que eu sai da comunidade, me perdi de vez no alcoolismo, bebia todos os dias, dormia pelas ruas, nem banho eu tomava. Uma determinada noite, como sempre, eu me embriaguei tanto, que cai na praça e até hoje não mais consegui enxergar o amanhecer, estou cego! _ Disse-me num fio de voz. Eu não sabia o que dizer, um nó muito grande, se entalou em minha garganta... depois de refazer-me, um pouco, perguntei lhe; você bateu a cabeça em alguma coisa? Quem sabe poderemos levá-lo em um especialista e você poderá voltar a enxergar... _Não _cortou ele num fio de voz. _ É irreversível. Eu não cheguei a cair, estava muito tonto, resolvi me sentar até passar aquele fogo, acabei por deitar e dormi, ou melhor apaguei, quando acordei,não sei quanto tempo permaneci ali, uma dor muito forte em olhos, comecei a gritar, fui socorrido por populares que passavam. Imagine sô Antonio, tiveram a coragem de colar meus olhos com super bood... – Não mais agüentei, comecei a chorar com uma tristeza atroz, como um ser “humano” poderia praticar tamanha maldade! Ele me abraçou cheio de ternura e disse-me... _ Não fique triste, hoje eu já me acostumei e, ti digo mais, tive que ficar cego para aprender a enxergar.
Ditinho faleceu 2 anos depois, sóbrio, enxergado muito bem, com os olhos da alma.
Tonhotavares.