PRISÃO
Lentamente desci as escadas que me levariam até a rua e fui pensando nos motivos de me sentir presa. Não digo presa a alguém mas a algo, em mim. Presa a desejos inconfessáveis que até mesmo para mim evito pensar e desvio logo a atenção quando me abatem. Presa a pensamentos próprios onde tento fazer pontes e achar coerências entre eles e os desejos. Presa também a pensamentos de outrem, sejam escritores ou não, geralmente de cabeças que confio ou me encantam. Presa a palavras que foram ditas e permaneceram, por mim e por outros. Presa ao passado, que não mais existe mas que faz questão de se fazer presente todos os dias. Presa também ao futuro, que ainda nem se fez vivente mas que se mostra apressado, na ânsia de acontecimentos melhores. E dessa forma, enredada a tantos pormenores imensos, segui meu rumo desejosa de voltar ao ninho, à toca em que me retiro todos os dias. Meu lugar seguro onde as amarras que me consomem mudam de proporção e me confortam. Saio de casa lentamente, sem vontade de chegar ao destino de hora marcada e com ansiedade para que todo o compromisso logo se acabe. Não consigo mais ficar solta.