A RE(DES)ORIENTAÇÃO (Pais e Mães que trabalham em escola também querem boa nota)
Eu li uma história, não sei mais onde, mas dizia que um certo senhor tinha um Fusca velho cuja buzina não funcionava mais. Então, ele procurou um mecânico, para trocar a buzina afônica. Quando chegou à oficina, as portas estavam fechadas, pois chovia no momento. Na entrada, havia um letreiro que dizia: “buzine para ser atendido”! Quais foram os sentimentos daquele motorista, são os meus agora! Sempre vou lembrar-me dos meus esforços para selecionar palavras adequadas para a reunião daquele oitavo ano, na qual estavam pais e alunos. Todos os professores estavam realmente preocupados com eles. A diretora, a secretária e os coordenadores faziam-se presentes, também. Havia muitos problemas de indisciplina naquela sala. Muitos rapazes brigavam ali dentro, empurravam-se, xingavam-se e todo tipo de desrespeito aos colegas e à aula que acontecia ali. Fiquei com medo que eles se vingassem de alguma forma: ameaçar-me de pegar lá fora, danificar meu veículo e ou me denunciar a quem quer que seja, pois é assim que sempre reagem quando os repreendemos mais duramente. Falei tanto que acabei falando demais, disse que tinha adotado um procedimento arrojado para tentar conter o mau comportamento dos indisciplinados: tirar ½ ponto a cada vez que chamar a atenção de algum ali. Esta atitude estava até funcionando, eu já estava conseguindo explicar alguma coisinha na aula que antes era impossível. Todas as minhas aulas tinham sido copiar do quadro ou atividade da página tal, valendo ponto. Nada mais dava certo!
Uma mãe, antes mesmo de terminar a reunião, quando outro professor ainda estava falando, chamou-me à parte juntamente com sua filha, questionando-me se era legal tirar ponto de aluno, alegando ser conhecedora das normas, pois já trabalhara em escola. Então lhe respondi com outra pergunta:
— É legal deixar sua filha perturbar todo mundo: gritar na hora da aula, entrar e sair a todo instante, correr dentro da sala, bater nos meninos, arrastar as cadeiras, jogar o lanche nos outros, brincando de guerrear e sem respeitar as advertências do professor? Porque esta tem sido a contribuição dela à escola e ao ensino!
Eu não quis manchar o brio da mãe, era apenas um desafio inútil, aquela moça deveria ter sido educada alguns anos antes. Agora a mudança tem que ser de dentro para fora. Tem que partir dos alunos e não da escola.
Naquele mesmo dia, a aula seguinte, após a reunião, foi minha, estive com os 40 indisciplinados daquela sala, porque apenas 6 foram considerados bons, e tudo aconteceu como se nada tivesse acontecido, eles eram os mesmos. Ministrei mais outras aulas ali e nenhuma mudança, agora só eu mudei, não tiro mais ponto, parei de incomodá-los e de impedi-los de atingir seu único objetivo na escola: ter boa nota!