Meio Saramago

E nesse sonho, procuro escrever mais um parágrafo que dê conta desse vazio. Acordo com os pensamentos emaranhados. Pé esquerdo pra fora da cama. Um maldito contato matinal com o chão frio. Quase tão frio como a minha alma, neste dia imundo, de sentimentos e sensações tão primitivos, tão primevos. Carrego um mundo em minhas costas. Arrasto meus pés por caminhos que já conheço e que não levam a lugar nenhum. Vivo sonhando com algo que nunca sei o que é. Os habituais novos rostos estranhos de sempre, que nunca param de divagar sobre os próprios rumos, sem saber ao certo o por que disso. Esbarro sempre em uma mulher do médico, talvez uma rapariga de óculos escuros, quem sabe um Pero de Alcaçova Carneiro, ávidos por uma manifestação de suas personalidades, a fim de torná-las públicas, apenas para se fazer notar, principalmente para outros que mal sabem que estes existem. Conjectura inútil, se isso for realmente uma. Já são oito da manhã e o barulho infernal do despertador. Mas tudo isso não é nada demais. É que hoje eu acordei meio Saramago, meio sal amargo.

Rafa Lima
Enviado por Rafa Lima em 05/07/2012
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