Simplesmente “bom-dia”!
Quando trabalhei no cemitério de Krefeld, impressionei-me com a civilidade dos funcionários daquele órgão público alemão. Nossas refeições eram feitas no asseado refeitório daquele enorme cemitério, onde comíamos sem preocupações com a higiene do recinto. Isso sempre me relembrava o nojo, na minha terra, de muitas pessoas que tomavam um banho de álcool depois de sair de um cemitério ou nele nunca entraram para evitar contaminação com organismos patogênicos dos recém-sepultados. Cada colega daquele trabalho, quando chegava para o café, fazia soar estrondoso “gutten morgen” (bom dia) ou “gutten morgen zusammen” (bom dia a todos juntos). Esse polido costume alemão também se espalhava noutros lugares daquele campo santo, como também pelas ruas da cidade. Tanto eles como os franceses, considerados “povo trancado”, abrem-se no momento de dizer “bonjour” ou, à tardezinha, “bonsoir”...Acho interessante o texto de Jean Jacques Rousseau “Il faut aller à pied” (É preciso andar a pé), pelo qual ele nos exorta a andar a pé, como salutar costume popular, para vivenciarmos as três ideias irmãs da revolução francesa, pois é, andando a pé, que somos livres a caminhar em todas as direções e pararmos onde quisermos (liberté); igualamo-nos a todos (egalité); e, enfim, podemos saudar fraternalmente os que passam ao nosso lado, desejando-lhes um “bonjour” (fraternité).
Foi andando nas caminhadas matinais pela Argemiro de Figueiredo, no Bessa, quando decidi saudar todos os que passavam ao meu lado. Afinal de contas, quem sabe, de repente, assim se difundiria esse saudável hábito de desejar, entre nós, uma boa jornada, caracterizando-nos, aos de fora, como gente educada e cortês. Daí, saí “dando” indistintamente “bom-dia” rousseauniano para todo mundo. A maioria respondia, uns com sorriso; outros mal abriam a boca escondendo a voz; havia os que apenas se entreolhavam; alguns se faziam de moucos, com os ouvidos entupidos de “headphone”, cultivando surdez... Contudo, nada me desanimou, continuei distribuindo” bom-dia”, até aos passantes de bicicleta como a Aníbal Costa; e interrompendo as caminhantes rezadoras de rosário como Alice. Foi quando o amigo Miguel Estrela, de São João do Rio do Peixe, pegando no meu braço, perguntou-me se conhecia Ferreira. Respondi-lhe que não; então continuou: “- Pois é, ele disse, lá perto do Iate, que você anda falando com todo mundo, mesmo com quem não conhece; se não pirou, com certeza vai ser vereador... “.