O QUE É UM PUM PARA QUEM ESTÁ BORRADO?
Teca é uma amiga querida que, por força de suas diversas habilidades e competências, às vezes tem de viajar a serviço. O episódio a seguir aconteceu quando de sua volta a Linhares, partindo do Rio de Janeiro, às 13horas. Deixara o hotel em Copacabana às 11horas, mas como o trânsito na Cidade Maravilhosa não é igual ao de Sooretama, ES, por exemplo, ela chegou ao Galeão apenas a tempo de entrar na aeronave.
Mais de 100 passageiros, portas lacradas, aeromoças demonstrando como utilizar os cintos de segurança e as máscaras de oxigênio (ninguém presta atenção)... eis que o comandante anuncia: "Srs. passageiros, devido a um problema detectado no filtro de gasolina, por questões de segurança o nosso voo atrasará 30 minutos, até que o problema seja solucionado".
Alguns passageiros entraram em pânico e entre os burburinhos escutou-se frases do tipo: “Ai, Jesus! Isso é um aviso de Deus”. “Eu não tenho asas!”, “Ai, Santos Dumont, seu burro!”, “Eu quero descer!”, “Nesse voo eu não vou!” A moça ao lado de minha amiga começou a roer as unhas, os dedos, as mãos... um rapaz suando muito e lívido (Medo? Diarreia iminente?) tinha um olhar desesperado, revelando o desejo enorme de deixar o avião, e foi o que ele e mais uns cinqüenta outros medrosos fizeram, tão logo o comandante ofereceu essa opção.
Uma hora depois, o piloto desculpou-se pelo atraso, disse que o problema havia sido solucionado e que seriam retomados os procedimentos para a decolagem. Turbinas ligadas, aeromoças sentadinhas.... vinte minutos depois ouviu-se a voz do mesmo moço desculpar-se, uma vez mais, informar que o problema persistia e que o conserto precisava de ser refeito.
Pronto! Os “corajosos” que haviam ficado na aeronave se desesperaram, levantaram-se e se posicionaram nos corredores, rumo às portas de saída e assim procederam quando tal foi permitido.
Minha amiga chegou a pegar sua bagagem de mão e ensaiar uma saída, mas refletiu: “A estrada lá de cima não tem acostamento para eu pedir carona”, “Avião não tem placa e os PPTs desenhados nas fuselagens são muito parecidos”, “Meu marido está me esperando em Vitória, e se eu sair daqui e não conseguir outro voo para hoje?”, “O que é melhor: eu me estressar, sair e ficar perambulando lá fora; ficar aqui dentro e esperar essa “bagaça” ficar pronta, mas chegar; ou deixar a companhia aérea chegar à conclusão de que terá de se virar comigo sob pena de nós nos encontrarmos nos tribunais?” Pensou, pensou, pensou... resolveu ficar.
Nova informação chegou dizendo que chegaria outro avião para fazer o transporte, e os “gatos pingados” se animaram, até que uma hora depois chegou a contra-notícia: todos seguiriam na mesma aeronave esculhambada, após o término do reparo, claro.
Avião consertado, nova espera de aproximadamente mais uma hora, dessa vez para identificar e retirar do porão as bagagens dos “medrosos” que optaram por descer e, por fim, a aeronave decolou.
Uma vez em Vitória, por volta de 19horas, ao encontrar o marido, foi recebida com o seguinte comentário: "Vamos ter de ligar para a seguradora do carro, por que estamos sem bateria e a culpa é sua! Demorou demais e eu acabei dormindo, ouvindo o som e com o ar condicionado ligado”.
Teve vontade de socá-lo, de mandá-lo à PQP, mas conseguiu se acalmar e dizer-lhe divertidamente: “O que é um pum para quem está borrado, não é, querido?”