Eles e Elas
Está difícil. É o que eu ouço falar sobre a dificuldade de as pessoas conseguirem viver um amor verdadeiro. Acredita-se que o amor vive escondido feito a tartaruga que se fecha à carapuça, e, somente às vezes, arrisca dar uma olhadela pra fora. A reclamação parte dos dois lados, homens e mulheres insatisfeitos com a falta de sentido que há nos relacionamentos.
As mulheres de hoje investem todas as suas fichas na “casca” se esquecem da seiva, aquela que nutre, sustenta, perdura. O mercado consumista não se restringe mais a venda de carros, roupas de grife, e blá blá blá, hoje as mulheres tornaram-se objetos de consumo, arrisco dizer que, quase não servem pra consumo propriamente dito, e sim para serem simplesmente olhadas.
As mulheres, lembremo-nos sempre das exceções, parecem não mais acreditar na originalidade, na delicadeza e no sagrado que há no ato de amar alguém. O essencial sucumbe a desejos imediatistas e fugazes.
Vivemos numa revolução da vulgaridade, mulheres frutas, mulheres que se mutilam tentando ofuscar o vazio que as preenche. Mulheres prisioneiras de uma exterioridade corporal escravista. Será que é isso que um homem procura numa mulher? Não consigo imaginar essas mulheres-robôs sendo mães, sendo donas de casa, esposas companheiras e, sobretudo, sendo profissionais competentes.
A vaidade na medida certa é essencial, a aparência é importante, sim! No entanto, parece-me que há um excesso desmedido na busca da imagem perfeita, irretocável. Não por acaso, alguns homens referem-se a algumas mulheres de forma depreciativa: “tão bonitinha, mas tão burrinha!”. O inverso também corresponde.
Quantas vezes nos deparamos com 1,80 de pura beleza e pecado e ficamos empolgadas (sim, homens, nós temos o costume de nos empolgar), mas, ao trocarmos uma única palavra, tudo vai por água abaixo... Enquanto que ao lado de um homem inteligente o tempo voa, a conversa flui como numa sinfonia de Beethoven. Os homens inteligentes e sensíveis possuem um feeling irresistível.
Faz algum tempo, em conversa informal com um grupo de alunas adolescentes, elas diziam-me que os só se interessavam pelos “gatos” da escola, pelos “pit boys” da balada. Diante da revelação, apresentei minha retórica, disse que não concordava. Olhei ao redor e vi um grupo de meninos saindo da biblioteca com as mãos cheias de livros, olhei pra elas e disse: eles sim são grandes partidos, serão, não tenho dúvidas, excelentes namorados ou amigos, que seja.
Elas me olhavam atentamente, percebi que podia prosseguir... Veja bem meninas, imaginem conversar com um garoto que leu Shakespeare, Machado de Assis, que gosta de música clássica e curte a natureza e conversar com garotos que, aos dezesseis anos de idade lê, no máximo, bula de engov, canta “eu quero tchu tcha tchu” e “aí se eu te pego”... Não dá né garotas! ? É o mesmo que trocar um cabernet sauvignon por raiska.
Ainda bem que nesta hora o sinal do colégio soou e eu despedi-me com uma sensação de aula dada e um sorriso satisfeito na alma.
(Cassiane Schmidt)