O Batman sempre vence!
Não tem jeito. Nós amamos o dinheiro. Por mais que possam existir filosofias socialistas, idéias que tentam combater o capitalismo predatório da atualidade, não adianta, todos nós somos masoquistas.
Sabemos que não devemos, entendemos que precisamos de limite, observamos a necessidade de dizer não, mas falhamos. Lutamos incansavelmente para adquirir coisas que acabam se tornando inúteis. Trabalhamos por longos períodos, abdicamos de tempo qualitativo com nossas famílias e amigos, para transformar o fruto de nosso suor em nada.
Temos prazer em fazer conta.
Ficaremos diversos meses presos ao "sistema" que rege nossa economia, perderemos nossa paz de espírito com as parcelas que nos afligiram durante um longo tempo, mas nos rendemos ao prazer de comprar.
Como um usuário de crack que procura desesperadamente sua droga, muitos correm para templos comerciais localizados em bairros de classe alta durante os finais de semana, simplesmente, para gastar.
Deleitamo-nos com os variados tipos de cartão que recheiam nossas carteiras, com os cheques e credito pré-aprovado que encontram-se a nossa disposição.
- Chega!- Eu disse. – Daqui para frente só investirei no que for extremamente necessário. Nada de gastos que inflem meu ego. Vou comprar aquilo que vá agregar. Sem gastar por gastar.
Assim, como muitos, declarei lei marcial contra o consumismo. Posicionei-me contra a manipulação econômica que a estrutura capitalista traz a sociedade. Reduzi os gastos com cartão, diminuí as idas ao cinema, suspendi os almoços no Subway, deixei de agregar títulos a minha devedeteca para poder-me ajustar a realidade financeira que vivo.
Consegui.
Até vê-lo.
No beco escuro e sujo, naquela noite fria e chuvosa, uma figura assustadora e imponente ergue-se. Com uma forma monstruosa, rápida e silenciosamente avança em minha direção a criatura mais bizarra que já vi. Se era um homem ou um animal, não sei. Quase dois metros e uma considerável envergadura formavam a concepção daquele ser. Ouço o som proveniente daquele furioso animal. Um rosnado (ou seria uma risada?) leva-me a picos de ansiedade e pânico com profundos declives de euforia e animação.
Vejo-o subir em direção ao telhado. Como se flutuasse rapidamente pousa sobre o parapeito do prédio de cinco andares. Observando as ruas, como um gárgula encurvado e tenebroso, permanece imóvel enquanto sua longa capa estala contra o vento que sopra sobre os ares. Com um olhar, não de ódio, mas, de zelo contempla a cidade a sua frente. Como um protetor silencioso, um guardador zeloso, um defensor cuidadoso.
O Cavaleiro das Trevas.
Não resisto. Corro até a prateleira, tomo-o em minhas mãos e o observo. O encadernado de capa dura de mais de quinhentas páginas do homem-morcego. A história de Frank Miller que mudara a trajetória do personagem e a forma de fazer histórias em quadrinhos. Deslizo pelos corredores da livraria até o caixa.
- Qual a forma de pagamento?- Pergunta a jovem senhora a minha frente.
- Cartão.
- Crédito ou débito?
Respondo rapidamente:
- Crédito.
Não adianta. O Batman sempre vence.