Crônica #112: Meu Amigo, Colega e Irmão JM
Crônica #112: Meu Amigo, Colega e Irmão JM
JM é um ilustre amigo, colega e irmão que eu tenho.
Desde que nasceu sofre de catarata congênita e nunca tratou dessa enfermidade. É uma pessoa super leal, um excelente amigo, um irmão mais que irmão, em colega fora de série. Aprendeu desde cedo a conviver com sua carência visual.
Alguns colegas o compreendiam e jamais o vilipendiava por causa de sua necessidade especial, embora sempre houvesse alguns que não dispensam qualquer situação para lhe aprontarem algum tipo de maldade para se divertirem à suas custas.
Quem não soubesse de suas dificuldades visuais, poderia pensar que ele fosse alguém arrogante, pedante, visto que não cumprimentava quem quer que fosse na rua, a menos que lhe cumprimentasse primeiro. É que o JM tinha apenas a visão periférica, vendo portanto apenas o vulto ou o contorno das pessoas ou coisas. Por essa razão, reconhecia mais as pessoas pela voz.
JM foi um aluno muito esforçado e, apesar da dificuldade de enxergar sempre tirou boas notas. Hoje é Teólogo e Bacharel em Direito com OAD e tudo o que tem direito. Um exemplo de superação. Mas, até hoje, o JM não superou o medo e não teve coragem de se submeter à cirurgia de catarata e enquanto houver amanhã ele estará sempre adiando. Ele nem sabe o que está perdendo.
Outro dia, ele foi com a Família fazer 'shopping'. Enquanto sua esposa e filho foram ao departamento de esporte, ele se achegou a um determinado lugar e educadamente falou: “Senhorita! Onde fica o departamento de roupa masculina?” Nenhuma resposta. Insistiu mais duas vezes e resposta alguma recebeu. Chateado e acabrunhado, tocou-lhe educadamente o ombro da suposta vendedora e disse-lhe compassadamente, em tom educado, mas de reprovação:
“É assim que vocês querem conservar os clientes?!!!”
Ao sentir o gipsito ombro do manequim, meio sem jeito, sem saber ao certo se fora visto ou não pagando esse mico, saiu de mansinho pela loja, procurando encontrar pela voz, sua esposa e filho. Logo adiante os encontrou e nada disse do ocorrido. Mas, até hoje, quando se lembra da cena, um frio esquisito lhe sobe pela espinha causando um desagradável mal-estar.