Eterno
- Número 119! Acorda 119!
Acordei assustado, com a voz que vinha de um pequeno radinho ao lado da cama, estava em um quarto estranho, nunca estive aqui, para falar a verdade, mal sei como vim parar aqui...
- Bom dia número 119! Bem vindo a Eterno! - Eu mal ouvia o que ele falava, tinha muita coisa na minha cabeça, e ao mesmo tempo nada, havia uma imagem de uma família, e na memória tinha uma garota, que eu tinha a sensação de conhecê-la ha muito tempo
-... E é expressamente proibido ler ou ouvir noticias - Sinceramente, só prestei atenção nesta parte.
Levantei, meu braço estava todo dolorido com uma marca vermelha, mas não lembrava de onde vinha tal marca, reparei na minha roupa, era escandalosamente azul, com a escrita "Eterno" em preto, abri a porta e dei de cara ao um enorme corredor, segui nele, e ao final, uma enorme praça lotadas de pessoas, aonde todos os homens usavam o tal uniforme azul, e as mulheres um uniforme vermelho.
Todos eram separados por cada lado da praça, homem e mulher, reparei todos, e por um momento, pensei que eu era o único confuso ali
- Posso te ajudar numero 119? - Disse um rapaz do meu lado, mas esse estava com um uniforme preto
- Estou confuso - disse eu lentamente - onde estou? Quem são eles?
- Você esta na Eterno! Parece que houve um pequeno erro com o senhor numero 119 - "erro?", fiquei me perguntando, estava cada vez mais confuso - Por favor, volte no teu quarto, você precisa ser excluído.
Essas palavras se repetiam em minha cabeça, "erro?", "excluído?", enquanto isso, vi o garoto de uniforme preto sumir em uma parede, parecia que eu tinha sido o único que percebeu isso, fui atrás dele...
Atravessando a parede, dei em um corredor enorme, andei sem rumo por ele, só queria respostas, andei ate encontrar uma sala, entrei, estava vazia, fechei a porta, e ouvi vozes do lado de fora, e espiei pela pequena janela:
- Eu não sei por que ele desistiu assim! - Disse uma mulher aos prantos para um garoto de preto, mas a senhora, não estava de uniforme. Isso aumentou ainda mais minha confusão, olhei pela salinha, havia um jornal, era proibido, mas li mesmo assim. Com a manchete "Casamento do ano! Júlia vai casar...", mas não cheguei a ler o resto, observei a foto, era a mesma garota da minha memória, eu a conhecia, mas da onde?
- Você não devia estar aqui número 119 - Disse uma voz seca atrás de mim, que me pegou pelo braço e me levou para o corredor
- Quero respostas! - Eu gritava, mas ele simplesmente não me ouvia, passei por uma sala com uma janela enorme aonde tinha varias pessoas assistindo uma TV, aonde a propaganda dizia
"Eterno! Aqui você encontra o caminho para uma vida em paz e eternamente sem desastres conjugais"... Era o que eu queria ouvir
- Quem é Júlia? - Gritei uma vez, mas não tive resposta - Quem é Júlia??? - Gritei mais alto, só que desta vez tive uma reação
- Você esta aqui por causa dela numero 119, ela te trocou por outro, agora volte ao seu quarto em silencio - E atravessei a parede novamente, e apareci na praça, ninguém olhou para mim
Comecei a ter lembranças dela, memórias dela, sentei, e chorei, de uma forma livre, sem me importar... Todos olharam para mim, com comentários como "o que esta acontecendo com ele?" e "o que é isso saindo do rosto dele?"... Voltei correndo ao meu quarto, a porta se trancou sozinha, e ouvi novamente a voz saindo do radio:
-Número 119, você é uma falha da nossa empresa, não conseguimos apagar teus sentimentos, agora seu destino vai ser o previsto no contrato que o senhor assinou...
Ao dizer isso, de um buraco na parede, saia um gás amarelo, fui ficando cada vez mais fraco, e dormente, ate cair...