Desencanto.
Ele tocou meu pescoço devagar e levou seus dedos até minha nuca.
Embaraçou meu cabelo e meus pensamentos, confusos e alheios. Variando entre prazer, medo, e a conhecida explosão de sentimentos.
Que como sempre, é inevitavelmente seguida da ausência dos mesmos.
Encheu meu copo de cerveja amarga e meus ouvidos e olhos de palavras doces.
Reparou meus olhos cansados e meu sorriso preguiçoso e meu humor insuportável.
Não pré-julgou meu silêncio e nem questionou o sentido de meus sentidos desconexos.
Muito menos minha insipida realidade de excesso de ideias e precariedade de ideais.
Entrelaçou seus dedos nos meus, apertou minhas coxas, beijou meu colo. Tirou meu cabelo do rosto, sugou minha boca, lambeu meu suor, enfraqueceu minhas pernas.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, mas creio que tenha sido culpa do frio.
A realidade não dá folga, os conflitos sempre aparecem, as belezas sempre perecem. E elevar demais qualquer coisa só só aumentará a força de seu óbvio atrito ao chão.
Quem vê de longe enxerga autosuficiência e inveja todo esse pensamento racional. Mas só quem vive assim sabe como é frio e solitário ser racionalmente sentimental.
Quem me dera ser uma Teresinha, viver me encantando com tais coisas bonitas. Não me assustar com as coisas da vida, não me incomodar em saber que tudo é em vão.
Abrir o coração junto com as pernas.
Deixar-me abalar com palavras ternas.
Esquecer tudo o que aprendi sobre desilusão.
E do meu vocabulário excluir o não.
Teresinha - Chico Buarque.